Um gás para a ozonioterapia
A terapia utilizada no Brasil experimentalmente para diversos problemas de saúde, como inflamações e feridas, será discutida no Senado e submetida a votação
No próximo dia 17, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado começará a debater um projeto de lei que prevê a regulamentação no Brasil de um tratamento médico que ganha popularidade nos consultórios particulares, apesar de não ser oficialmente reconhecido por aqui: a ozonioterapia. Depois da audiência pública, o projeto deverá seguir para a Câmara dos Deputados e, por fim, se aprovado, para sanção presidencial. A técnica é reconhecida em catorze países, entre eles Rússia, China, Portugal, Espanha e Cuba, e faz parte de sistemas públicos de saúde. Nos Estados Unidos, 23 estados a praticam. Trata-se de uma terapia que utiliza o gás ozônio misturado a moléculas de oxigênio no organismo como tratamento complementar de diversas doenças.
O ozônio tem várias funções terapêuticas, que começaram a ser descobertas durante a I Guerra Mundial, no contato com as graves feridas e infecções dos soldados. No uso terapêutico, ele entra no organismo de carona com o oxigênio. A junção dos dois gases é produzida por um aparelho mecânico. A combinação é então misturada a uma amostra de sangue do paciente e reinjetada no organismo, aplicada sobre a pele por meio de compressas, entre outras vias. O recurso é empregado como forma de cuidado paralelo para inflamações crônicas como artrites e artroses, dores lombares, feridas de difícil cicatrização e queimaduras (veja os detalhes no quadro ao lado). Afirma a otorrinolaringologista Emília Gadelha Serra, presidente da Associação Brasileira de Ozonioterapia, dedicada pesquisadora do assunto: “Em contato com a membrana das células do corpo, a mistura gasosa aumenta a oxigenação dos tecidos, além de possibilitar efeitos analgésico e anti-inflamatório e apresentar propriedades germicidas”.
No Brasil, a ozonioterapia sai ao custo médio de 300 reais por aplicação. No entanto, como se trata de recurso ainda experimental, dada a proibição legal, apesar dos bons resultados colhidos em outros cantos do mundo e do ritmo acelerado de estudos em torno do mecanismo, o Conselho Federal de Medicina (CFM) entende ser inviável autorizá-lo, preferindo um olhar cauteloso. Diz um documento do CFM: “A revisão da literatura demonstra que a ozonioterapia tem sido empregada em alguns projetos, mas não há estudos bem fundamentados demonstrando sua eficácia em medicina”.
Entre os raros riscos, se aplicada de forma incorreta e em quantidade muito superior à recomendada, a ozonioterapia pode provocar embolia. Em 2015, porém, o Conselho Federal de Odontologia emitiu parecer regulamentando a prática. Desde então, os dentistas brasileiros são autorizados a usar a ozonioterapia como apoio nos procedimentos de extração de dentes, tratamento de canal e controle de inflamações na gengiva.
Publicado em VEJA de 18 de outubro de 2017, edição nº 2552