Maior grupo privado do país no ensino superior, a Kroton está prestes a se tornar a líder também na educação básica. A empresa anunciou a compra da Somos Educação por 6,2 bilhões de reais. A operação simboliza uma guinada na estratégia de crescimento da Kroton, depois que, há quase um ano, ela foi impedida pelas autoridades de defesa da concorrência (o Cade) de adquirir a Estácio, a segunda companhia do país no ensino superior. O setor de atuação da Somos, que inclui os ensinos infantil, fundamental e médio, representa um mercado estimado em 101 bilhões de reais, quase o dobro do tamanho do superior. Além disso, há outras diferenças: o ciclo de permanência dos alunos é mais longo (de dez a doze anos na educação básica, contra de quatro a cinco na superior) e a concorrência, menor. Isso ajuda a explicar a reação positiva de investidores ao anúncio do negócio: as ações da Kroton subiram 7% em dois dias. “A transação foi cara, mas acelera tremendamente o avanço do grupo no ensino básico”, escreveram analistas do banco Credit Suisse em relatório. Segundo eles, há uma avenida de crescimento potencial nesse segmento. Com a Somos, a Kroton também consegue diversificar as suas fontes de receita e ganhos.
O setor de ensino passa há alguns anos por um movimento de profissionalização em que grandes grupos privados, nacionais e estrangeiros, compram escolas e faculdades para obter ganhos de escala. A companhia combinada, por exemplo, será um colosso, com um faturamento somado de 7,4 bilhões de reais em 2017, 3 600 escolas, 66 000 alunos de ensino básico e de idiomas — o número chega a 33 milhões se considerados os que utilizam seus livros didáticos.
A Somos, antiga Abril Educação, ocupa a liderança na educação básica, com uma variedade de atuação que abrange de sistemas de ensino (como Anglo, pH e SER, entre outros), escolas (Anglo Vestibulares, Colégio pH) e editoras de livros didáticos (Ática, Scipione e Saraiva) a cursos preparatórios para concursos e de idiomas (Red Balloon). A sua origem remonta a 2010, quando as editoras Ática e Scipione e o sistema de ensino SER foram desmembrados do Grupo Abril, o mesmo que edita VEJA, para formar a Abril Educação. A nova empresa fez abertura de seu capital no ano seguinte e, em 2015, teve o seu controle assumido pela Tarpon Investimentos. Então, mudou de nome para Somos Educação. Já a Kroton nasceu como um curso preparatório para o vestibular criado por cinco amigos, em Belo Horizonte, em 1966, com o nome Pitágoras. Resta saber agora se o Cade vai aprovar o negócio. Os grupos não são concorrentes diretos, mas, unidos, serão uma força dominante desde o ensino infantil até a faculdade.
Publicado em VEJA de 2 de maio de 2018, edição nº 2580