As descobertas que trazem novas esperanças para o tratamento da calvície
Condição afeta metade dos homens após os 50 anos
A demanda é milenar. Desde a Antiguidade há registros de inúmeras tentativas de resolver a queda de cabelo. As receitas chegavam a ser mirabolantes. Figuras históricas, como o imperador romano Júlio César (100-44 a.C.), apelaram até a uma pasta feita com ratos queimados. Mais de vinte séculos depois, preservar as madeixas continua sendo um desejo (e desafio) sobretudo para os homens. Uma das razões está na natureza: aos 30 anos de idade, um em cada quatro homens tende a perder um volume de fios. Aos 50, praticamente metade deles entra nesse time. E, com uma década de vida a mais, três em cada quatro veem clareiras no cocuruto. A alta incidência e a cultura de valorizar a cabeleira — um símbolo de juventude — explicam, portanto, a potência do mercado de tratamento capilar, que movimenta por ano 7,8 bilhões de dólares pelo mundo e só cresce.
A procura, evidentemente associada a investimentos, entrega boas notícias. Com novas tecnologias, o sonho de repovoar o couro cabeludo não só é possível como tem se tornado menos dramático e mais acessível. De fato, o arsenal de soluções baseadas em pesquisas — não nas crendices ancestrais — evoluiu significativamente (veja no quadro). Contempla uma gama de terapias que vão de sprays tópicos a transplante capilar, a depender da necessidade e do estágio da calvície. O grande salto nessa seara foi dado, recentemente, com a descoberta dos motivos fisiológicos por trás da queda de cabelo — e há que lembrar que, embora em menor número, mulheres podem penar com ela. Os achados abriram caminho ao desenvolvimento de produtos e técnicas aptos a driblar ou remediar processos naturais. “A perda dos fios está relacionada com a atuação de uma enzima que converte a testosterona, o hormônio masculino, em uma substância que encolhe os folículos capilares”, diz a médica Juliana Mendonça, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Esse fenômeno pode ser mais ou menos exacerbado pela influência genética.
Para coibi-lo, farmacêuticas criaram moléculas como o minoxidil, a finasterida e a dutasterida — todas nasceram com outras finalidades, mas se mostraram úteis ao controle e à prevenção da queda. De loções a comprimidos, esses medicamentos costumam ser a primeira frente de combate à calvície. O uso deve ser feito sob indicação médica e a adesão diária faz diferença nos resultados, que levam três meses para aparecer. Procurar um especialista — um dermatologista ou um tricologista, o expert em cabelos — é crucial para identificar as origens da debacle capilar. Até porque doenças infecciosas (como a covid-19) e disfunções hormonais tendem a alimentar o quadro. Quando a alopecia é hereditária — diagnóstico de cerca de 42 milhões de homens no país, pelas estimativas da SBD —, tende a ser irreversível, mas pode ser controlada.
O ideal, em todos os casos, é buscar orientação médica aos primeiros sinais suspeitos. A demora pode comprometer o tratamento, e os remédios já não darão conta do recado. Foi o que aconteceu com o empresário Bruno Amadeu, de 38 anos. Ele estava na faculdade quando ganhou o apelido de “careca”. Chegou a tentar a aplicação de minoxidil, mas não se adaptou. Quando procurou um tricologista, a melhor saída seria o transplante capilar. Aí é que está: hoje, felizmente, mesmo quando a situação já progrediu, há como reparar o sumiço dos fios e a autoestima do cliente.
Desde que foi desenvolvido nos EUA, ainda na década de 1950, o transplante capilar evoluiu sensivelmente. O resultado ficou melhor — adeus, “cabelo de boneca” — e o processo todo tornou-se menos doloroso. “A tecnologia nos ajuda muito tanto no planejamento como na cirurgia em si”, diz o médico especialista em transplante capilar Thiago Bianco, que tem entre seus pacientes personalidades como Roberto Carlos e Tom Cavalcante. O procedimento consiste em tirar cabelos da região mais abastada para a mais carente. “Mas, agora, transplantamos folículo por folículo com uso de microscópio e lâminas mais precisas”, afirma Bianco. A operação, feita sob anestesia, pode levar dez horas — tudo isso para garantir um acabamento perfeito após a recuperação. Sim, o desespero com a calvície está por um fio.
Publicado em VEJA de 6 de setembro de 2024, edição nº 2909