Colesterol: nova medicação aos que não podem tomar estatinas
Segundo pesquisadores, o ácido bempedóico consegue reduzir as taxas de colesterol em 18%, o que diminui os riscos de AVC e ataque cardíaco
O tratamento do colesterol é feito através de medicações, principalmente as conhecidas como estatinas. Mas, apesar de reduzirem os níveis da doença no organismo em até 50%, o remédio apresenta efeitos colaterais debilitantes, incluindo dores musculares, o que pode impedir a adesão ao tratamento tradicional. Por causa disso, cientistas decidiram desenvolver uma nova substância capaz de combater o colesterol que pudesse ser usada como terapia alternativa, especialmente para aqueles que não conseguem ou não podem utilizar estatina. Com o nome científico de ácido bempedóico, a nova medicação traz os mesmos benefícios, como reduzir o risco de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC), sem causar tantos efeitos colaterais.
De acordo com a equipe do Imperial College London, na Inglaterra, responsável pelos testes clínicos do remédio, o ácido bempedóico impede que o corpo crie blocos de construção do colesterol, e com isso, reduz os níveis da doença em 18%. Ainda que seja um valor menor se comparado às estatinas, os pesquisadores afirmam que o medicamento é seguro e produz menos efeitos colaterais, além de poder ser utilizado como opção complementar.
“No geral, as estatinas fazem um ótimo trabalho, mas esta nova substância pode fornecer benefícios reais para as pessoas que não podem tomá-las [estatinas] ou precisam de tratamentos adicionais para chegar ao nível certo [de colesterol]”, comentou Nilesh Samani, da British Heart Foundation, no Reino Unido, ao The Telegraph. Os resultados do estudo foram publicados nesta quinta-feira no periódico The New England Journal Of Medicine.
O estudo
Para testar a eficácia do ácido bempedóico, a equipe inglesa recrutou 2.230 pacientes com doenças cardiovasculares ou colesterol genético que já tomavam algum medicamento para tratar a doença (principalmente estatinas). Essas pessoas foram divididas em dois grupos: 1488 foram colocados no grupo que receberia a nova substância, enquanto 742 tomaram placebo. Os pacientes foram acompanhados durante 52 semanas. Ao final do estudo, concluiu-se que o medicamento cumpria a sua função de reduzir o colesterol – ainda que em proporção menor que as estatinas. “Reduzir os níveis de colesterol é fundamental para diminuir o risco de ataque cardíaco e AVC, principalmente para aqueles com uma doença cardíaca.
Apesar disso, os especialistas não descartaram a existência de efeitos colaterais próprios, mas ressaltam que a taxa de pessoas que os relataram foi semelhante tanto entre o grupo tomando a medicação quanto para os que ingeriram placebo (sem qualquer substância farmacológica na composição), embora tenha sido ligeiramente mais elevado para o ácido bempedóico. Nesse grupo, o efeito mais comum foi a gota – uma forma de artrite que caracterizada por dor intensa, vermelhidão e sensibilidade nas articulações. Por causa disso, os pesquisadores orientam que essa questão seja resolvida entre médico e paciente, que devem analisar benefícios e riscos individuais.
Segundo a equipe, mesmo com os efeitos colaterais, a atuação da substância se restringe apenas ao fígado, sem atingir os músculos e, portanto, não causa dores musculares. Ainda assim, o novo medicamento não estará disponível no mercado pelos próximos anos já que novos testes podem ser solicitados antes que órgãos de saúde ao redor do mundo possam checar os dados e aprovar a comercialização.
Colesterol
O colesterol alto é uma das principais causas de doenças cardiovasculares já que pode causar bloqueio de artérias e vasos sanguíneos. Esses bloqueios privam o coração ou o cérebro de oxigênio, podendo causar ataque cardíaco e AVC. Para evitar esses riscos, a recomendação é cortar o consumo de gorduras saturadas, como frituras e alimentos processados (biscoitos recheados e lasanha congelada, por exemplo). A prática de exercícios físicos regularmente também faz parte das estratégias para reduzir as taxas de colesterol.
Quando essas medidas não funcionam, especialmente em casos em que a condição tem origem genética, os médicos prescrevem medicamentos, mais comumente estatinas, para diminuir a quantidade de colesterol ruim (LDL) no sangue. No entanto, alguns efeitos colaterais podem dificultar a adesão ao tratamento. Por causa disso, os pesquisadores acreditam que a nova medicação podem ser tão importante para essa população. “O ácido bempedóico pode ser outro acréscimo ao arsenal de tratamentos disponíveis para os pacientes”, concluiu Kausik Ray, principal autor do estudo, à BBC.