Durante muitos séculos, o corpo humano foi um mistério: pouco se sabia sobre os órgãos existentes e suas funcionalidades, por exemplo. Estudiosos de diversas partes do mundo e de épocas diferentes, como Aristóteles, na Grécia, e Leonardo da Vinci, na Itália, se aventuraram no campo da anatomia e fizeram algumas descobertas preliminares que hoje já foram confirmadas pela ciência graças ao avanço da tecnologia.
Apesar disso, muito do nosso organismo permanece desconhecido, mesmo para os cientistas mais aplicados. Aliás, algumas partes do corpo humano foram reveladas apenas na última década. A rede britânica BBC preparou uma lista com as cinco descobertas mais recentes:
1. Camada de Dua
Revelada em 2013, a Camada de Dua é a sexta camada da córnea. O pequeno componente do olho tem 0,001 milímetros de espessura. Antes de ser conhecida pela ciência, acreditava-se que a córnea — tecido transparente que fica na frente do olho — era composta por apenas cinco camadas.
O nome da película foi dado em homenagem ao seu descobridor, o professor Harminder Dua, da Universidade de Nottingham, na Inglaterra. Para encontrar a sexta camada, ele usou córneas doadas e injetou bolhas de ar para separar cada camada. A identificação foi feita por observações no microscópio.
Segundo Dua, muitas doenças que afetam a parte de trás da córnea já estão sendo relacionadas à presença, ausência ou lacerações dessa camada. A revelação está ajudando a simplificar cirurgias oculares.
2. Ligamento anterolateral
Outra descoberta de 2013 foi um ligamento do joelho chamado ligamento anterolateral. Embora tenha sido identificado recentemente, pesquisadores já suspeitavam de sua existência — confirmada por Steven Claes e Johan Bellemans, dos hospitais universitários de Leuven, na Bélgica.
O joelho apresenta uma anatomia complexa, formada por quatro ligamentos principais, mas com estruturas menos definidas a serem investigadas. Uma dessas pesquisas levou à revelação do novo ligamento que, segundo os estudiosos, atua na proteção do joelho quando viramos ou mudamos de direção. O ligamento anterolateral (LAL, como foi batizado) vai do lado mais externo do fêmur (osso da coxa) até a tíbia (osso da canela).
Para os pesquisadores, a presença do LAL ajuda a compreender uma lesão comum em atletas: a ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA).
3. Vasos linfáticos do cérebro
Algumas descobertas acontecem de propósito. Outras ocorrem por acaso. Em 2016, pesquisadores da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, por exemplo, se “depararam” com estruturas vasculares misteriosas quando estudavam a meninge — membrana que reveste e protege o sistema nervoso central.
Nessas estruturas foram encontradas células de defesa que não deveriam estar ali já que acreditava-se que o cérebro não se conectava ao sistema imunológico. Investigações posteriores levaram os cientistas a perceber que essas células estavam dentro de estruturas vasculares que faziam essa conexão (cérebro-sistema imunológico) até então desconhecida. A equipe descobriu também que essas células defesa afetam as funções do nosso cérebro e a forma como interagimos socialmente.
Os novos achados poderiam permitir estudar doenças, como Alzheimer, através do sistema imunológico e do processo de envelhecimento, por exemplo.
4. Mesentério
Uma das descobertas mais recentes, na verdade, já havia sido feita por Leonardo da Vinci, lá no século XVI, mas foi ignorada por 500 anos. O mesentério é uma dobra dupla do revestimento da cavidade abdominal (peritônio) que une o intestino à parede do abdômen e permite que ele permaneça no lugar.
O órgão, descoberto em janeiro de 2018, foi caracterizado como um órgão único e contínuo no centro do nosso sistema digestivo. A equipe do University Hospital Limerick, na Irlanda, ainda não sabe muito mais sobre a funcionalidade do mesentério além daquelas relacionadas ao fornecimento de sustentação e irrigação sanguínea para às vísceras.
Apesar de se mostrar vital para o funcionamento do organismo, o mesentério não é classificado com órgão por alguns cientistas.
5. Interstício
Em março de 2018, cientistas americanos descobriram o interstício, que é uma rede cheia de fluído localizada abaixo da superfície da pele, que interliga diversas partes do corpo, como o trato digestivo, os pulmões e o sistema urinário, além dos músculos e vasos ao seu redor.
A equipe da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, acreditam que essa descoberta poderia explicar a metástase do câncer, o edema, a fibrose e o funcionamento mecânico de tecidos e órgãos, já que o interstício se estende por todo o corpo. Eles ainda explicam que essa rede de cavidade poderia funcionar como uma via expressa para a movimentação dos fluidos.
Para os pesquisadores, a estrutura pode ser um dos maiores órgãos do corpo humano. Mas, assim como o mesentério, alguns especialistas sequer consideram o interstício um órgão.