Uma doença rara afeta um crescente número de crianças nos Estados Unidos e preocupa as autoridades. Em cerca de uma semana, o número de casos de mielite flácida aguda (AFM, na sigla em inglês), uma doença que tem sintomas semelhantes aos da poliomielite (provoca paralisia temporária ou permanente) subiu de 66 para 155, em 22 estados americanos. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), a AFM afeta principalmente crianças e ataca o sistema nervoso, especificamente a substância cinzenta da medula espinhal, causando fraqueza e/ou paralisia em um ou mais membros.
Apesar de ser um condição rara — a taxa global de AFM é inferior a um em um milhão —, os Estados Unidos notaram um ligeiro acréscimo no número de casos desde 2014. A análise de dados dos últimos cinco anos indica que a doença é mais comum em pessoas abaixo dos 18 anos (90% dos casos); e a média da idade dos pacientes é de 4 anos.
“O CDC vem investigando ativamente a AFM, testando amostras e monitorando doenças desde 2014. A maioria dos casos ocorre no final do verão e no outono”, disse Nancy Messonnier, diretora do Centro Nacional de Imunizações e Doenças Respiratórias do CDC, à CNN.
Causas
A causa da mielite flácida aguda ainda é desconhecida, mas especialistas indicam que certos vírus (enterovírus, vírus do Nilo Ocidental e adenovírus, por exemplo), toxinas ambientais e distúrbios genéticos podem estar associados ao surgimento da doença. “Esta é verdadeiramente uma doença misteriosa. Não sabemos o que está causando nesse aumento. O que sabemos no momento é que o poliovírus e o Vírus do Nilo Ocidental não são a causa”, revelou Nancy à CBS News. Por apresentar sintomas semelhantes, a AFM é frequentemente confundida com a pólio, doença incapacitante e potencialmente fatal causada pelo poliovírus.
Em entrevista ao site especializado Medical Daily, Samuel Dominguez, do Hospital Infantil do Colorado, ressaltou que a população não deve se alarmar já que a AFM é provavelmente provocada por uma complicação rara de um vírus comum. Além disso, não há evidências de que seja contagiosa. “Essa é uma síndrome relativamente incomum. Então, acho que isso deve ser reconfortante para as pessoas”, disse.
Como ainda não foi possível determinar a real causa do problema, a recomendação para prevenir o aparecimento da mielite flácida aguda é manter uma boa higiene pessoal lavando as mãos regularmente, além de evitar picadas de mosquitos, que podem ser hospedeiros para diversos vírus. Especialistas ainda destacam a importância da imunização contra a poliomielite por causa dos baixos índices de vacinação em todo o mundo — inclusive nos Estados Unidos.
Sintomas
A manifestação inicial da AFM costuma revelar sintomas genéricos como os da gripe (fraqueza, tosse, febre e espirro) ou doenças respiratórias. Os sintomas secundários incluem perda de tensão quando o músculo está em repouso (tônus muscular), fala arrastada, face caída e dificuldade para mover os olhos, engolir e respirar. A área onde a paralisia ocorre depende da região da medula espinhal afetada. Se a AFM afetar o lado inferior da medula espinhal, por exemplo, a paralisia tende a ocorrer nas pernas; caso afete o lado mais alto, é mais provável que os braços sofram paralisia.
O CDC recomenda que os pais estejam atentos à doença e procurem assistência médica imediata caso algum membro da família desenvolva fraqueza súbita ou perda de tônus muscular nos braços ou pernas.
Tratamento
O tratamento da mielite flácida aguda é variável e deve ser decidido caso a caso, uma vez que muitos pacientes se recuperam rapidamente e outros podem necessitar de fisioterapia antes de recuperar o movimento. Alguns médicos ainda recomendam terapia ocupacional.
Em casos extremos, o paciente pode necessitar de cuidados de longa duração ou pode falecer em decorrência de complicações neurológicas. Embora este ano a doença não tenha causado mortes, em 2017 os Estados Unidos registraram um óbito.
O CDC disse não ser possível determinar quem pode estar em maior risco de desenvolver a doença e quais são as consequências a longo prazo do desenvolvimento da AFM, mesmo depois da recuperação.