A Trombectomia Mecânica (TM), procedimento cirúrgico que tem por objetivo desobstruir e restaurar o fluxo sanguíneo arterial após um acidente vascular cerebral isquêmico agudo (AVCi), com janela de sintomas maior do que 8h e menor do que 24h, foi incorporada na Tabela de Procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS).
A portaria do Ministério da Saúde, publicada na segunda-feira, 27 e anunciada por Helvécio Miranda Magalhães Junior, secretário da Atenção Especializada do Ministério da Saúde, no Global Stroke Alliance, no Uruguai, também aponta onde serão retirados os recursos orçamentários e indica os centros de terapia intensiva que estarão aptos a realizarem a TM pelo SUS, escolhidos com base no estudo Resilient, da Rede Brasil AVC, que envolveu 221 pacientes e atestou a possibilidade de implementação da trombectomia mecânica no sistema único de saúde, com taxa de 82% de recanalização na oclusão de grandes vasos.
Liderado pela neurologista Sheila Ouriques Martins, presidente da Rede Brasil AVC e da World Stroke Organization (Organização Mundial de AVC) e pelo médico neurointervencionista Raul Nogueira, o Resilient também evidenciou ótimos resultados de redução da mortalidade e de diminuição de sequelas por AVC isquêmico, tipo mais comum da doença, que corresponde a 80% dos casos, aumentando em três vezes a chance de o paciente ser independente e na recuperação de sua capacidade funcional (motora e memória), além de demonstrar a eficácia e segurança do tratamento para a retirada de coágulos que podem evoluir para quadros graves.
Tratamento de R$ 20 mil
Até então, a única terapia clínica disponível no SUS era a trombólise, que pode ser usada até 4h30min do início dos sintomas, mas nem sempre é eficaz para os casos mais graves – cerca de 30%. Até a publicação da portaria assinada pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, apenas quatro hospitais públicos no país (em São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Ceará) ofereciam a TM, que custa em torno de R$ 20 mil.
Segundo um estudo recente da Comissão da Revista Científica Lancet Neurology em parceria com a World Stroke Organization (WSO), o AVC pode causar quase 10 milhões de mortes por ano até 2050. A pesquisa, publicada na revista científica The Lancet Neurology, diz ainda, que esse cenário custará até US$ 2 trilhões anualmente. Só neste ano, a doença já matou mais de 82 mil pessoas no Brasil.