Pesquisadores da King’s College, em Londres, identificaram seis tipos distintos de manifestações de Covid-19, por meio de seus sintomas. O estudo levou em conta dados cadastrados por cerca de 2700 usuários no aplicativo de pesquisa epidemiológica Covid Syptom Study.
A grande descoberta dos estudiosos, no entanto, é que esses “patamares” diferentes da doença influenciam diretamente na gravidade do quadro de cada paciente, além de ajudar a prever quem terá necessidade de suporte respiratório durante a hospitalização.
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Clique e AssineDe acordo com o texto publicado pela própria universidade, as descobertas vão colaborar com o gerenciamento clínico da doença, ajudando os médicos a identificar quem está em maior risco e possivelmente precisará de cuidados extras. Diz principal pesquisadora do estudo, Carole Sudre, da área de engenharia biomédica da universidade. “O estudo ilustra a importância de monitorar os sintomas ao longo do tempo para tornar as previsões sobre riscos e resultados individuais mais sofisticados”. Cabe ressaltar que o estudo (e seus achados) ainda devem ser revisados por especialistas médicos.
Os principais efeitos da doença são tosse contínua, febre e perda de olfato (anosmia), mas os dados coletados no aplicativo vão além e pontuam que as pessoas podem apresentar uma ampla gama de sintomas diferentes, incluindo dores de cabeça, dores musculares, fadiga, diarreia, confusão mental, perda de apetite, falta de ar, entre outros. A progressão e os resultados também variam significativamente entre as pessoas, indo de de sintomas leves como gripe a doenças graves ou fatais.
Para descobrir se determinados sintomas tendem a aparecer juntos e como isso estaria relacionado à progressão da doença, a equipe de pesquisa usou um algoritmo para analisar os dados cadastrados no app por 1.650 usuários no Reino Unido e nos EUA com a Covid-19 e desenvolver um padrão. O estudo ocorreu entre março e abril.
A análise detectou que os sintomas normalmente aparecem agrupados, representando seis ‘tipos’ distintos de Covid-19. O algoritmo foi então testado em um segundo conjunto de dados independente de 1.050 usuários no Reino Unido, EUA e Suécia, que registraram seus sintomas em maio.
Os seis tipos detectados pelos pesquisadores:
(similar à gripe, sem febre): dor de cabeça, perda de olfato, dores musculares, tosse, dor de garganta, dor no peito, sem febre.
(similar à gripe, com febre): dor de cabeça, perda de olfato, tosse, dor de garganta, rouquidão, febre, perda de apetite.
(gastrointestinal): Dor de cabeça, perda de olfato, perda de apetite, diarreia, dor de garganta, dor no peito, sem tosse.
(nível grave um — fadiga): Dor de cabeça, perda de olfato, tosse, febre, rouquidão, dor no peito, fadiga.
(nível grave dois — confusão mental): Dor de cabeça, perda de olfato, perda de apetite, tosse, febre, rouquidão, dor de garganta, dor no peito, fadiga, confusão mental, dor muscular.
(nível três grave, —abdominal e respiratório): Dor de cabeça, perda de olfato, perda de apetite, tosse, febre, rouquidão, dor de garganta, dor no peito, fadiga, confusão mental, dor muscular, falta de ar, diarreia, dor abdominal.
Riscos em cada patamar
Os pesquisadores também investigaram se as pessoas que estavam em grupos específicos de sintomas tinham maior ou menor probabilidade de desempenhar versões mais drásticas da doença e precisar de suporte respiratório.
Eles descobriram que apenas 1,5% das pessoas com sintomas do grupo 1; 4,4% das pessoas com sintomas do grupo 2; e 3,3% das pessoas do grupo 3 necessitaram de suporte respiratório. Esses números foram de 8,6%, 9,9% e 19,8% para os agrupamentos 4, 5 e 6, respectivamente. Além disso, quase metade dos pacientes do último patamar acabou no hospital, em comparação com apenas 16% dos pacientes do primeiro patamar.
Vale ressaltar que as pessoas que performaram sintomas dos grupos de 4 a 6 tendiam a ser mais velhas e mais frágeis, eram mais propensas a estar acima do peso e a ter comorbidades, como diabetes ou doença pulmonar, do que aquelas com os tipos 1,2 ou 3.
Aviso antecipado
Com os achados, os especialistas desenvolveram um modelo que combina informações sobre idade, sexo, IMC e condições pré-existentes, juntamente com os sintomas coletados cinco dias após as primeiras manifestações da doença. Com esse banco de dados, foi possível prever em qual grupo um paciente se enquadra e qual seu risco de necessitar de hospitalização ou suporte respiratório. Os pesquisadores ainda pontuam que pessoas com desdobramentos severos da doença normalmente vão ao hospital treze dias após os primeiros sintomas, ou seja, esse tipo de mapeamento poderia servir como um aviso antecipado para que ocorra o monitoramento dos pacientes com maior risco.