Coronavírus: resposta imune das mulheres é mais eficiente, diz estudo
Pesquisa feita pela Universidade Yale traz uma nova pista sobre por que a Covid-19 é mais grave em homens do que mulheres
Desde o começo da pandemia, uma característica intriga os cientistas: homens têm maior probabilidade de desenvolverem formas graves da Covid-19 e de morrerem em decorrência da doença. Um crescente corpo de evidências começa a desvendar esse mistério.
A mais nova pista sobre o assunto mostrou que a resposta imune das mulheres é mais eficaz que a dos homens. Pesquisadores da Universidade Yale, nos Estados Unidos, analisaram 98 pacientes, sendo 47 homens e 51 mulheres, e concluíram que os homens desenvolvem uma ativação muito mais fraca das células T, cujo trabalho é matar as células infectadas por vírus e impedir a propagação da infecção.
Esse atraso estava relacionado ao grau de doença nos homens. Além disso, quanto mais velho o homem, mais fraca foi a resposta dessas células. Essa característica não foi encontrada nas mulheres.
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Clique e AssineNo trabalho, publicado quarta-feira na revista científica Nature, os pesquisadores, incluindo uma brasileira que faz parte da equipe, examinaram as respostas imunológicas de 17 homens e 22 mulheres hospitalizados com Covid-19. Nenhum destes pacientes estava intubado ou tomando medicamentos que afetam o sistema imunológico. Seus resultados foram comparados com o de outras 59 pessoas saudáveis. Todos foram submetidos a exames de sangue, RT-PCR, saliva, urina e fezes a cada três a sete dias.
Os resultados mostraram que todos os doentes tinham níveis elevados de citocinas no sangue, proteínas que estimulam o sistema imunológico a agir. Alguns tipos de citocinas, chamadas interleucina-8 e interleucina-18, estavam elevadas em todos os homens, mas apenas em algumas mulheres. Mulheres que tinham níveis elevados de outras citocinas ficaram mais gravemente doentes, descobriram os pesquisadores.
As citocinas são um marcador inflamatório. A famosa “tempestade de citocinas” acontece quando à uma produção exagerada dessas substâncias, que pode piorar o quadro e levar à morte.
Vale ressaltar que o estudo tem suas limitações. Além do pequeno número de pacientes incluídos, a idade avançada dos participantes pode ter interferido nos resultados. “Sabemos que a idade está provando ser um fator muito importante nos resultados da Covid-19, e a interseção de idade e sexo deve ser explorada”, disse Sabra Klein, especialista em vacinas da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, ao The New York Times.
O estudo também não chega a uma causa que explique o porquê dessa diferença na produção de células T. Normalmente, as mulheres têm melhor resposta imunológica devido à quantidade do hormônio feminino estrogênio, que favorece o sistema de defesa do corpo. Por outro lado, a testosterona, abundante nos homens, inibe essa resposta.
No entanto, a maioria das participantes do estudo já estavam na menopausa. Nessa fase da vida, há uma queda significativa nos níveis do hormônio feminino. De qualquer forma, a nova descoberta é mais uma peça nesse quebra-cabeça. “As respostas de células T mais robustas em mulheres mais velhas podem ser uma pista importante para a proteção e devem ser exploradas mais a fundo.”, ressaltou Klein, ao The New York Times.
Além disso, a descoberta pode ter implicações para a vacina, pois indica que homens, em especial idosos, podem depender mais da imunização para se proteger da infecção.
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