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Covid-19: “A terapia com plasma é a mais promissora”, diz médico francês

Em entrevista a VEJA, o infectologista Pierre Tattevin fala de tratamentos e da nova fase em que a França está vivendo com o fim do confinamento

Por Carolina Melo, de Rennes
Atualizado em 28 Maio 2020, 19h34 - Publicado em 28 Maio 2020, 14h04

O infectologista  Pierre Tattevin, professor do renomado Hospital Universitário de Rennes e presidente da Sociedade de Patologias Infecciosas de Língua Francesa, fala de tratamentos e da nova fase em que a França está passando com o relaxamento da quarentena e do futuro dos tratamentos para Covid-19.

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Muitos estudos estão sendo realizados para encontrar um medicamento. Qual linha de tratamento é a melhor?

A maioria recicla moléculas já existentes. Ou seja, reutilizam um medicamento que originalmente foi desenhado para outra doença que não seja a Covid-19. Isso é um dos problemas. Encurta-se o tempo mas nem todos os estudos têm uma metodologia sólida, com grupo controle. Sem dúvida, a terapia mais promissora atual é a que utiliza plasma sanguíneo de pessoas já recuperadas em doentes. Ela se encaixa nos tratamentos que estimulam o sistema imunológico para se defender do vírus com anticorpos específicos para isso. Há diversos trabalhos sérios com esse método sendo conduzidos. Há também os trabalhos com a vacina BCG, originalmente contra a tuberculose, que alguns cientistas acreditam que possa agir positivamente no sistema de defesa do corpo contra infecções de uma maneira geral.

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O governo brasileiro autorizou o uso da hidroxicloroquina em pacientes com sintomas leves. O que o senhor acha disso?

Não faz sentido, até porque sabemos que 85% dos infectados não precisa de nenhum tratamento, apenas esperar que a infecção passe. O tratamento com esse remédio, que foi levantado logo no início como uma promessa por alguns pesquisadores franceses, inclusive, não serve para nada.

A França está entre os países da Europa que acabam de passar pela epidemia. Muitos temem por uma segunda onda. Isso e provável?

É possível, mas não obrigatório. Praticamente não temos visto a segunda onda em países asiáticos que viveram a epidemia antes da gente, como a China. Temos agora experiência. Sabemos melhor como controlar de forma mais eficaz os clusters (grupos com grande concentração de infecção), identificar os prováveis casos, testá-los e, se o resultado for positivo, investigar quem são as pessoas que estiveram com o infectado para testá-los e isolá-los também. Assim quebramos a corrente de infecção. Sabemos que o vírus não se manifesta no organismo de forma crônica, ele não fica armazenado no corpo. E ele precisa do humano para ser transmitido. Se formos eficazes na identificação e isolamento de novos casos, o vírus poderá desaparecer sozinho, sem vetor suficiente para se espalhar pela população.

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Mesmo com o fim do confinamento, uma série de restrições foram apresentadas a população francesa, como o limite máximo de agrupamentos de dez pessoas. Essas regras são essenciais para impedir a volta da doença em larga escala? 

Sim, mas a questão é que nem sempre vai ser possível seguir essas medidas, como manter uma distância de 1 metro dos outros. Evitar que crianças encostem umas nas outras ao brincar é difícil. Não temos de achar que isso por si só vá causar uma segunda onda se, globalmente, continuarmos aplicando bem as regras de higiene e monitorando e isolando os novos casos. Ainda que sem vacina por enquanto, é possível que o vírus tenha batido forte nessa primeira fase mas que, a partir de agora, comece a recuar e até mesmo desaparecer.

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