Covid-19: cientistas são cobaias de vacina sem comprovação científica
Pelo menos 20 pessoas testaram um imunizante no estilo 'faça você mesmo'; os ingredientes chegam pelo correio e a aplicação é por spray nasal
Um grupo de pesquisadores decidiu testar por conta própria uma vacina contra o coronavírus no estilo “faça você mesmo” (tradução livre do termo em inglês DIY, sigla para Do It Yourself). Os ingredientes chegam pelo correio, para serem preparados pelos destinatários em suas casas ou laboratórios. Depois de pronta, a vacina, que ninguém sabe se funciona, é aplicada via spray nasal, segundo informações do MIT Technology Review.
A iniciativa é liderada por um grupo chamado Rapid Deployment Vaccine Collaborative, ou RADVAC, (em tradução livre: Colaboração em Vacinas de Implantação Rápida), integrado por mais de 20 cientistas, tecnólogos e entusiastas da ciência, alguns afiliados aos renomados MIT e Universidade Harvard, ambos nos Estados Unidos. Ainda segundo informações do MIT Technology Review, o kit foi distribuído para dezenas de pessoas do círculo social de integrantes do grupo.
Normalmente, uma vacina candidata é desenvolvida em laboratório, passa por testes pré-clínicos em animais para avaliar sua segurança. Se ela se mostrar segura nessa fase, os testes clínicos em humanos podem ser iniciados, desde que aprovados por uma agência regulatória como a Anvisa, no Brasil, ou a FDA, nos Estados Unidos.
O RADVAC não solicitou autorização da FDA ou de qualquer conselho de ética para desenvolver o imunizante tampouco para iniciar os testes clínicos. Em entrevista ao MIT Technology Review, o geneticista Preston Estep, fundador e principal cientista do grupo, disse que o FDA não tem jurisdição sobre o projeto porque os participantes misturam e administram a vacina em si mesmos, sem pagar nenhuma taxa em troca. Resta ver se a FDA pode intervir de alguma para regular o projeto.
Durante a pandemia de coronavírus, devido à necessidade de uma solução rápida, as várias fases dos testes clínicos em humanos são realizadas simultaneamente, para acelerar o processo. No entanto, nenhuma etapa é “pulada”, principalmente no que se refere à comprovação da segurança do imunizante antes de avançar para a próxima fase ou de aumentar o número de voluntários.
LEIA TAMBÉM: Ivermectina: o que sabemos sobre seu uso contra o coronavírus
O grupo ainda não tem evidências de que a vacina gera uma resposta imune adequada conferir qualquer tipo de proteção contra o novo coronavírus. Os estudos para responder a essa pergunta ainda estão em andamento. “Acho que corremos um risco muito maior com a Covid [do que com a vacina experimental], considerando todas as formas de pegar a doença e quão altamente variáveis são as consequências [da Covid]”, disse o geneticista George Church, chefe de um laboratório em Harvard que está participa da realização dos estudos dessa vacina experimental, ao MIT Technology Review.
Church, que já se auto-aplicou duas doses da vacina, acredita que a vacina é segura, mesmo na ausência de dados que comprovem isso e que “o maior risco é que ela seja ineficaz”. No entanto, especialistas alertam para os riscos de usar uma vacina sem comprovação de segurança. Vacinas sempre apresentam algum risco de efeitos colaterais, que variam desde inchaço, vermelhidão e dor no local da administração até febre ou um efeito colateral que pode ocorrer após a exposição conhecido como aprimoramento dependente de anticorpo (ADE).
O efeito, embora raro, é grave. Ele deixa o corpo mais vulnerável a infecções graves após a vacinação e já foi observado em estudos em animais de outras vacinas contra o SARS-CoV-2, de acordo com o site especializada Live Science. Por isso, auto-testar uma vacina que não tem sua segurança comprovada “não é a melhor ideia” devido ao risco de desencadear a ADE, segundo George Siber, ex-chefe de vacinas da empresa farmacêutica Wyeth, em entrevista ao MIT Technology Review.