Sonhos representam nossos medos e desejos. “Nada mais compreensível, portanto, do que constatar na pandemia a prevalência de sonhos entrecortados, pontuados por situações de ameaças e ansiedade”, diz o médico Sérgio Arthuro, pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Afinal, é assim, em permanente montanha-russa de humores, que boa parte da humanidade se sente há dezoito meses.
Relatos coletados pela pesquisa internacional COVID Sleep Study, realizada em catorze países envolvendo cerca de 20 000 voluntários, registraram as transformações nos padrões de sono e sonhos no período em que o mundo vive sob a ameaça do vírus. Arthuro é o líder do braço brasileiro do estudo, que conta com aproximadamente 2 000 participantes. O levantamento não está finalizado, mas algumas observações já puderam ser feitas. Uma delas é o aumento dos chamados sonhos lúcidos, quando o indivíduo tem consciência de que está sonhando. A elevação aconteceu com frequência no Brasil, pelo que se sabe até agora. Também houve crescimento na ocorrência de pesadelos. “Muitos deles estão relacionados à pandemia, como os associados ao medo da contaminação”, diz o pesquisador. Resultados de outros estudos convergem para as mesmas conclusões: por enquanto, as representações oníricas da mente nesses tempos pandêmicos são mais de angústia do que de alívio.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752