A osteoporose afeta 200 milhões de pessoas no mundo, 10 milhões só no Brasil. Segundo dados de um novo estudo, no mundo, o custo anual de hospitalização por fraturas causadas pela doença é de 19,8 bilhões de reais. Este valor é maior que o custo de infarto (16,7 bilhões de reais), derrames (11,7 bilhões de reais) e câncer de mama (1,9 bilhões de reais).
No Brasil, a osteoporose custa 1,2 bilhão de reais anualmente. Mais da metade (61%) deste montante, o equivalente a 733,5 milhões de reais, está associado à perda de produtividade. As despesas com hospitalização representam 234 milhões de reais e os custos cirúrgicos, 162,6 milhões de reais.
As informações são provenientes do estudo The burden of osteoporosis in four Latin American countries: Brazil, Mexico, Colombia, and Argentina, publicado recentemente na revista científica Journal of Medical Economics. A pesquisa considerou dados de epidemiologia, impacto econômico, diagnóstico, tratamento, gestão e políticas públicas em quatro países da América Latina: Brasil, México, Colômbia, Argentina.
“O objetivo do estudo foi analisar a carga de saúde provocada pela doença na América Latina. Esse conceito foi desenvolvido pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e pela OMS para avaliar de forma completa o grau de comprometimento que a doença traz para a população.”, explica Ben-Hur Albergaria, professor de epidemiologia clinica da Faculdade Federal do Espirito Santo e pesquisador do Centro de Pesquisa em Osteoporose do Espirito Santo (Cedoes).
O estudo, realizado pela farmacêutica Amgen, em parceria com a consultoria americana Cornestone Research Group, avaliou que em 2018 o fardo da osteoporose nesses quatro países chegou a 4,5 bilhões de reais e tende a aumentar para cerca de 6 bilhões de reais anuais até 2026. Por outro lado, o custo com medicação corresponde a 31,9 milhões de reais e os valores dedicados ao diagnóstico alcançam 45,2 milhões de reais.
Em 2018, brasileiros, mexicanos, colombianos e argentinos de 50 a 89 anos sofreram 840.239 fraturas em decorrência da osteoporose, 159.533 delas de quadril – o tipo mais grave devido ao alto risco de morte. Estima-se que se não houver ampliação do acesso a diagnóstico e tratamento, essas fraturas irão aumentar 14% em 2022.
Nesses países, o tempo médio de espera para cirurgia de uma fratura de quadril é de 5 a 7 dias, enquanto a OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda intervenção em até dois dias. O atraso aumenta o risco de morte nos primeiro mês após a fratura. Além disso, cerca de 60% dos pacientes com osteoporose de alto risco não são tratados.
“O Brasil é um dos poucos países da America Latina que tem a osteoporose como prioridade em termos de saúde publica. é preciso trabalhar com ferramentas simples como a identificação precoce de pacientes de alto risco e iniciar o tratamento de quem precisa. A osteoporose esta presente na sociedade e só vai aumentar. Não da para fechar os olhos e achar que ela não existe”, afirma Albergaria.
Com o envelhecimento da população, o número de casos da doença tende a crescer. Em 2015 a população brasileira entre 50 anos e 89 anos era de 46 milhões de pessoas. E até 2030 eles serão 69,7 milhões. Em relação ao número de fraturas, em 2015 elas alcançaram 373.000 . A estimativa é de chegarmos a 608.000 fraturas em 2030, um aumento de 63%, se nada for feito.
A osteoporose
A osteoporose é uma doença silenciosa, que avança lentamente. Não há dor nem sintomas. Os ossos tornam-se porosos, frágeis, e podem partir-se como gravetos. O pesadelo assombra principalmente as mulheres que já passaram pela menopausa. Uma em cada três mulheres com mais de 50 anos tem a doença. Entre os homens da mesma faixa etária, um em cada cinco é afetado.
O osso, diferentemente do que se imagina, não é uma estrutura estática. Desde a infância, o organismo troca constantemente células ósseas velhas por células novas. Na juventude, a construção prevalece sobre a destruição. Na osteoporose, o poder das células de erosão se torna maior e começam as perdas.
O paciente perde massa óssea, com isso aumenta o risco de fraturas, que podem acontecer mesmo no menor impacto e pode afetar negativamente sua qualidade de vida e prejudicar a independência para realizar tarefas do dia a dia.
As fraturas mais comuns (50%) são as vertebrais e, em segundo lugar (25%), as de quadril. Porém, a última é mais perigosa: cerca de 25% das pessoas morrem após um ano, 40% das pessoas ficam incapazes de andar de forma independente e 33% acabam totalmente dependentes ou em uma casa de repouso.
Fatores de risco
Ossos fracos são um mal tipicamente feminino. As mulheres correm um risco 2,5 vezes maior de adquiri-lo, principalmente após a menopausa. Isso porque o organismo feminino fica sem a proteção do hormônio estrógeno, que estimula justamente a formação de massa óssea.
Nos cinco anos que se sucedem à última menstruação, a mulher pode perder 5% de massa óssea por ano. Como, daí em diante, ainda tem cerca de um terço da vida pela frente, tomar cuidado é imprescindível. Os homens não passam ilesos pelas transformações da velhice, mas a baixa de hormônios entre eles é mais gradual. Até os 65 anos, a perda de osso não passa de 0,5% ao ano.
Outros fatores de risco incluem: histórico familiar da doença, mulheres baixas e magras, deficiência na produção de hormônios, uso prolongado de medicamentos à base de cortisona, heparina e no tratamento da epilepsia; alimentação deficiente em cálcio e vitamina D; baixa exposição à luz solar,
sedentarismo, tabagismo, consumo de álcool e certos tipos de câncer.
Tratamento
Atualmente, os medicamentos disponíveis para o tratamento da doença atuam de duas maneiras distintas: os bifosfonatos inibem a perda óssea, enquanto os paratormônios estimulam a formação de osso.
Recentemente, após quase duas décadas sem novas abordagens, uma estratégia baseada em uma rara mutação genética em pessoas com ossos tão densos que nunca quebram foi aprovada. O romosozumabe é o primeiro medicamento com duplo mecanismo de ação: aumenta a formação do osso ao mesmo tempo em que reduz a reabsorção óssea.
A droga é indicada para os casos mais severos da doença: mulheres na pós-menopausa com alto risco de fratura. Nos Estados Unidos, uma única dose, composta por duas injeções consecutivas, custa o equivalente a pouco mais de 7 000 reais. Devido ao preço e às contraindicações, especialistas preveem que o romosozumabe será oferecido a pacientes com maior risco ou que não responderam aos tratamentos convencionais. No Brasil, a aprovação do medicamento está prevista para no segundo semestre do próximo ano, a depender da Anvisa.
Diagnóstico
A osteoporose pode ser diagnosticada por meio de um exame chamado densitometria óssea. “Ele compara a densidade óssea do indivíduo com o de uma pessoa saudável de 30 anos e o diagnostico e feito com base nessa comparação.”, explica o reumatologista Charlles Heldan de Moura Castro, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso).
Diz Ben-Hur Albergaria, professor de epidemiologia clinica da Faculdade Federal do Espirito Santo e pesquisador do Centro de Pesquisa em Osteoporose do Espirito Santo (Cedoes): “Na rede pública há um déficit de densitômetros. Atualmente, O Brasil tem de 10 a 13 densitômetros para cada milhão de habitantes. O número ideal seria de 13 a 15. Além disso, há um distribuição desigual, concentrada nos grandes centros, dificultando o acesso fora do eixo da região sudeste.”
Prevenir é fundamental
Nenhum dos tratamentos disponíveis é capaz de curar a osteoporose. Portanto, a arma mais eficaz contra a doença é a prevenção. Ou seja, muito cálcio, vitamina D e ginástica moderada (veja quadro ao lado). Essas medidas devem ser adotadas desde a juventude. Explica-se: cerca de 90% da estrutura óssea é formada até os 20 anos. Quanto mais sólido for seu processo de calcificação, menor será o risco de a doença se manifestar mais tarde. É como quem poupa dinheiro para uma aposentadoria tranquila.