Em menos de três meses, Brasil supera casos de dengue de 2023
Número de mortos passa de 500 e há 903 óbitos em investigação; São Paulo vai distribuir repelentes para gestantes
Antes de fechar os três primeiros meses de 2024, o número de casos de dengue no Brasil ultrapassou os registros de todo o ano de 2023, segundo atualização desta sexta-feira, 15, do painel de arboviroses do Ministério da Saúde. São 1.684.781 casos ante os 1.658.816 episódios contabilizados nos 12 meses do ano passado. A doença transmitida pelo Aedes aegypti já causou 513 mortes e há 903 óbitos em investigação. Em 2023, foram 1.094 mortes por dengue.
Embora o Ministério da Saúde tenha monitorado desaceleração da doença em localidades onde o surto teve início, caso de Minas Gerais, a doença ainda é motivo para preocupação e está se intensificando na região Sul. Nesta quinta-feira, 14, o estado do Paraná decretou estado de emergência por epidemia da doença.
Acre, Amapá, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo também declararam situação de emergência por epidemia da infecção. Entre os municípios, 299 decretaram emergência.
No estado de São Paulo, o Centro de Operações de Emergências (COE) determinou a abertura de um processo de compra emergencial de 300 mil unidades de repelentes para distribuição para cerca de 50 mil gestantes.
“Nosso objetivo é colocar à disposição da gestante, um público de atenção para dengue, zika e chikungunya, mais uma proteção à sua saúde e de seu bebê”, disse, em nota Priscilla Perdicaris, secretária de Estado da Saúde em exercício.
Testes rápidos
Neste mês, o Ministério da Saúde elaborou uma nota técnica com a indicação de testes rápidos para o diagnóstico da doença.
Embora o exame não mostre o sorotipo nem o isolamento do vírus para posterior sequenciamento, ele será importante para detecção do caso, medida que permite o manejo adequado dos pacientes e o início da hidratação, abordagem que evita o agravamento do quadro.
Surto de dengue no Brasil
No início de fevereiro, o ministério divulgou a estimativa de que o número de casos de dengue no país pode chegar a 4,2 milhões em 2024, índice que seria um recorde. Durante todo o ano passado, foram registrados 1.658.816 casos e 1.094 mortes por dengue.
Desde 2022, a infecção voltou a crescer no país. A partir das primeiras semanas do ano, os números da doença causada pelo mosquito Aedes aegypti começaram a escalar de forma preocupante, fazendo com que estados e municípios brasileiros implementassem medidas como aumento de leitos e tendas para hidratação dos pacientes.
A doença tem colocado o mundo em alerta por estar se alastrando em novas e antigas regiões com a ajuda das mudanças climáticas, que criam condições propícias para a reprodução e proliferação dos mosquitos. Desde o ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o tom ao se debruçar sobre dados e constatar que, em 2022, as taxas de infecção aumentaram oito vezes em relação ao ano 2000.
Em visita ao Brasil no início do mês, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que “o surto atual faz parte de um grande aumento em escala global da dengue”. Segundo Adhanom, o levantamento da entidade apontou que, no ano passado, foram notificados 5 milhões de casos e 5.000 óbitos relacionados com a infecção em mais de oitenta países.
Vacina contra a dengue
O Distrito Federal e o estado de Goiás foram os primeiros a receber doses da vacina contra a dengue, dando início à campanha de imunização que, no momento, está concentrada na faixa dos 10 aos 14 anos de idade. Além dessas localidades, Acre, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins também receberão doses que serão distribuídas para 521 municípios.
Eles foram selecionados por serem locais com mais de 100 mil habitantes que estão com predominância do sorotipo 2 da doença e tiveram números altos de notificações desde o ano passado. Também são pontos que registraram índices elevados de infecção nos últimos dez anos.
O grupo prioritário foi escolhido por ser o mais afetado por episódios que levam à internação.
Em outubro do ano passado, a OMS recomendou a vacinação contra a doença com foco principalmente em crianças e adolescentes de 6 a 16 anos em países endêmicos, caso do Brasil. Por aqui, o imunizante Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) meses antes, em março.
O Ministério da Saúde seguiu a recomendação da entidade e vai ofertar o imunizante para essa faixa etária. Com a medida, o Brasil se tornou o primeiro país a incluir a vacina no sistema público de saúde.
Reações adversas da vacina
O Ministério da Saúde apresentou neste mês esclarecimentos sobre uma nota técnica com dados sobre eventos adversos relacionados à vacina contra dengue, a Qdenga, incorporada no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e aplicada no público de 10 a 14 anos.
Segundo o documento, entre as 365 mil doses aplicadas das redes pública e privada, foram relatadas 529 notificações, das quais 70 foram reações alérgicas, como hipersensibilidade e anafilaxia.
Os casos são considerados raros e especialistas recomendam que os pais continuem levando filhos a postos de vacinação para protegê-los contra infecção causada pelo mosquito Aedes aegypti.