Se você é mulher, é provável que já tenha ouvido falar em endometriose. Mas, você sabe o que é? A doença, que acomete de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva, ocorre quando as células do endométrio – tecido interno do útero responsável pela menstruação – se espalham pelas regiões do aparelho reprodutor, intestino ou bexiga causando dor profunda e, em muitos casos, infertilidade.
Menstruação retrógrada
Ao longo do ciclo menstrual, o endométrio se transforma naturalmente, mudando de espessura a cada fase. Na menstruação, esse tecido se desprende da parede uterina dando origem ao sangramento.
Acredita-se que a endometriose aconteça devido à “menstruação retrógrada“, quando parte do tecido menstrual percorre caminhos opostos à vagina, em direção aos órgãos da região pélvica através das trompas. Dessa forma, as células endometriais aos poucos aderem-se a esses tecidos, formando coágulos ou cicatrizes fibrosas.
Infertilidade
A infertilidade, uma das consequências do problema, ocorre devido à obstrução das trompas e consequente interrupção do processo reprodutivo. “Os mecanismos pelos quais a endometriose pode afetar a fertilidade são a distorção da anatomia dos órgãos da pelve causada pela doença ou mecanismos inflamatórios no útero [endométrio], na atividade das trompas uterinas, nos óvulos e até mesmo no embrião quando já formado”, diz Luciana Cristina Pasquini Raiza, radiologista no Hospital Albert Einstein e no RDO Diagnósticos, em São Paulo.
Embora cerca de 50% das mulheres que têm dificuldade para engravidar tenham a condição como principal causa, não é possível prever se ou quando a doença causará infertilidade. Não existem dados que indiquem a probabilidade de uma mulher que possui endometriose se tornar infértil. A única forma de reduzir esse risco, segundo Luciana, é com o diagnóstico precoce e acompanhamento médico.
O desconhecimento sobre os sinais da doença contribui para a disseminação de vários mitos sobre a condição. Veja abaixo os principais e se são verdade, ou não. Adiantamos que cólicas muito fortes, que atrapalham a rotina, por exemplo, durante o período menstrual, são um sinal de alerta.
A endometriose não apresenta sintomas.
Mito. “Além da dificuldade para engravidar, a endometriose provoca cólica menstrual, dor pélvica crônica – não relacionada ao ciclo menstrual há pelo menos 6 meses –, dor durante a relação sexual no fundo da vagina, alterações intestinais e urinárias cíclicas, ou seja, que ocorrem durante o período menstrual”, explicou Luciana.
Na maioria das vezes, uma cólica não está associada a uma alteração física – no mundo, 90% das adolescentes e jovens sofrem com a dismenorreia. No entanto, na endometriose, a intensidade é muito maior. “A cólica deve ser investigada quando é de forte intensidade ou incapacitante, ou seja, traz prejuízo à rotina diária da mulher – necessidade de faltar ao trabalho ou escola, por exemplo –, quando apresenta piora progressiva ao longo do tempo ou ainda quando estiver associada aos demais sintomas.”
Muitas mulheres sentem o intestino mais solto durante a menstruação, o que não é necessariamente um problema. “Durante o ciclo menstrual, o hábito intestinal da mulher normal também pode variar de acordo com os níveis hormonais”, disse a médica. No caso da endometriose, é o contrário – a mulher pode sentir dificuldade e dor ao evacuar, assim como sintomas semelhantes ao da infecção urinária.
Não é possível reverter a doença.
Mito. A endometriose não tem cura, mas pode ser superada com tratamento clínico, controlando os sintomas com medicamentos, ou cirúrgico, removendo as lesões profundas. “A indicação é individualizada para cada mulher, pois depende do tipo e dos locais acometidos pela doença, dos sintomas, da idade e do desejo reprodutivo da mulher, além do risco de potenciais complicações.”
O uso prolongado de anticoncepcionais pode “mascarar” a doença.
Verdade. Quando contínuo, o uso de pílula anticoncepcional pode encobrir a existência da endometriose. Afinal, anticoncepcionais muitas vezes são indicados como tratamento e controle dos sintomas. No entanto, de acordo com Luciana, seu uso segue as mesmas indicações e contra-indicações a fim de evitar possíveis complicações, como a trombose, por exemplo.
A endometriose é uma doença genética.
Pode ser que sim. Sabe-se que existe uma tendência familiar no desenvolvimento da endometriose. Se a mãe ou a irmã de uma mulher possui a doença, ela tem um risco sete vezes maior de desenvolvê-la do que outras sem esse histórico. “No entanto, ainda não está bem esclarecido se esse aumento de risco se deve a fatores genéticos ou adquiridos.”
Exames de imagem são eficazes no diagnóstico.
Verdade. Existem três tipos da doença: superficial, profunda e o endometrioma, quando atinge o ovário. Todos são identificáveis em exames de imagem, que ajudam a estabelecer o melhor tipo de tratamento. “Os principais exames são a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética, para identificar lesões de endometriose profunda”, diz Luciana.
A endometriose pode trazer complicações, como o câncer.
Verdade, mas é raro. “Apesar da sintomatologia trazer bastante impacto na qualidade de vida mulher, a endometriose é uma doença benigna”, afirma a médica. Alguns estudos mostram um leve aumento do risco de alguns tipos de câncer associados à endometriose, principalmente em sua forma ovariana. No entanto, esse é um cenário pouco provável.