Especialistas alertam para risco de doença associada à prótese mamária
Pacientes com próteses de silicone alegam sofrer da doença do implante mamário, que causa dor no peito, cansaço, perda de cabelo e distúrbios do sono
Muitas mulheres recorrem ao implante mamário quando não estão totalmente satisfeitas com o tamanho dos seios. No entanto, especialistas alertam que algumas pacientes têm retornado ao consultório alegando estar sofrendo com a doença do implante mamário (BII, na sigla em inglês), condição que apresenta sintomas como dor no peito, cansaço, calafrios, perda de cabelo, dor crônica, fotossensibilidade e distúrbios do sono. Em cerca de 50% dos casos, a melhora – temporária ou permanente – acontece somente após a remoção da prótese de silicone.
Por causa disso, Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos Estéticos (BAAPS, na sigla em inglês) recomenda que as mulheres que procuram esse tipo de intervenção cirúrgica sejam informadas sobre a possibilidade de sofrer com o problema. “A doença do implante mamário não é algo que costumávamos sempre falar – mas as associações de cirurgia plástica começam a aconselhar isso. Acho que é uma coisa boa para que as pacientes tomem decisões mais informadas”, alertou Naveen Cavale, da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS, na sigla em inglês), à BBC.
Apesar disso, ainda não há evidências científicas suficientes que comprovem a correlação entre os sintomas descritos pelas pacientes e os implantes mamários. Além disso, especialistas indicam que pela falta de evidências, a doença ainda não faz parte de um diagnóstico médico. Devido a isso, cirurgiões pedem que sejam realizados mais estudos para elucidar a questão.
Casos
Em uma programa da BBC, Naomi Macarthur, de 28 anos, contou que colocou o implante em 2014 e, poucas semanas depois, começou a sentir “sintomas horríveis”. “Eu me lembro de ter dores fortes no estômago. E o cansaço era como se eu tivesse corrido uma maratona e cavado um milhão de trincheiras quando, na verdade, não fiz nada. Escrever com uma caneta era cansativo demais”, disse a instrutora fitness. Ela revelou que teve perda de cabelo, alergias e erupções cutâneas.
Ao procurar um médico, ela ouviu que os sintomas nada tinham a ver com o implante e chegou até mesmo a receber o diagnóstico errôneo de Lupus. No ano passado, ela encontrou grupos de apoio online para mulheres que passavam por situação semelhante. Ela, então, removeu a prótese e, em poucos dias, viu os sintomas com os quais convivia há quatro anos, desaparecerem. “Eu não posso acreditar o quão incrível eu me sinto, e como eu me recuperei”, disse.
Já Steph Harris, da cidade inglesa de Woking, contou que teve três tipos diferentes de implantes e sofreu com os sintomas da doença do implante mamário. Ela já teve câncer de mama, mas seu cirurgião e oncologista acreditavam que a fadiga crônica e a dor estavam relacionadas ao implante. A doença afetou até mesmo a sua vida profissional: ela precisou pedir demissão, pois não conseguia lidar com os efeitos negativos.
“Isso vai soar muito estranho, mas lidar com o câncer de mama foi mais fácil. A quimioterapia era muito mais fácil de lidar do que a fadiga crônica”, revelou. Hoje, ela já não usa mais prótese de silicone.
Sem evidência
Entre a comunidade médica, há alguns céticos que não acreditam na existência da doença pela falta de evidências científicas. Outros profissionais da área da saúde admitem a falta de evidências, mas não conseguem ignorar os sintomas dos pacientes. “Para as minhas pacientes, a doença do implante mamário é muito real, e eu não tenho razão para duvidar. Mas para mim, como médico, não faz sentido científico”, destacou Cavale.
Ainda assim, com o número crescente de mulheres levantando a questão com seus cirurgiões, entidades de saúde pedem investigações para entender o problema.
“A segurança do paciente é a nossa maior prioridade e sempre investigamos onde há preocupações de segurança sobre um dispositivo médico. É totalmente razoável que o livro seja aberto novamente, e nós já estamos examinando as evidências em torno disso. Estamos ansiosos para aprender mais com os pacientes sobre suas experiências nessa área”, disse a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA, na sigla em inglês) recentemente ao Channel 4.
A entidade informou também que recebeu 1.586 relatórios de incidentes adversos relacionados às próteses de silicone entre 2014 e maio de 2019. No entanto, ainda não há qualquer orientação para que as mulheres removam o implante.