O diabetes é uma síndrome metabólica que pode ter graves consequências se não for tratada adequadamente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 422 milhões de adultos têm essa doença que é responsável pela morte de 1,6 milhão de pessoas a cada ano. Já o Ministério da Saúde informa que, entre 2010 e 2016, houve um crescimento de 11,8% no número de mortes, totalizando 406.452 óbitos no período.
Além disso, o número de homens diagnosticados com diabetes aumentou 54% entre 2006 e 2017, passando de 4,6% para 7,1%, de acordo com dados da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Apesar do percentual mais elevado, a população feminina é a mais afetada pelo diabetes (8,1%) ainda que o crescimento tenha sido inferior (28,5%). O fenômeno também se repete no mundo: cerca de 8% da população feminina – o equivalente a 205 milhões de mulheres – são diabéticas.
O crescimento mundial tem preocupado especialistas, que buscam alternativas para enfrentar o diabetes – especialmente o Tipo 2, considerado a maior epidemia global da história. Uma das iniciativas da comunidade médica foi realizar o I Curso Internacional sobre o Diabetes para discutir soluções para combater o aumento de casos.
“Se quisermos evitar o agravamento desta epidemia crescente, precisamos tomar medidas em todos os níveis, incluindo políticas governamentais de saúde e planejamento urbano. As Sociedades Nacionais de Diabetes e Endocrinologia também precisam promover abordagens preventivas”, alertou Andrew Boulton, presidente da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), que participou da conferência realizada em Brasília pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Desinformação
A desinformação é o grande problema. Levantamento recente publicado na revista Saúde mostrou que grande parte dos brasileiros desconhece as consequências de não tratar o diabetes da forma correta. O dado desperta preocupação já que no Brasil há 14 milhões de pessoas diagnosticadas com a doença, colocando o país como a quarta nação com maior quantidade de pacientes. Os números também são altos quando falamos de indivíduos pré-diabéticos: 40 milhões de pessoas.
A pesquisa averiguou, por exemplo, que o brasileiro não sabe que entre as consequências do diabetes está o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC), condição que pode levar à morte. Grande parte dos entrevistados afirmaram também que doenças como câncer, AIDS e Alzheimer são mais graves que o diabetes. Outro desconhecimento está relacionado às causas: entre os entrevistados diabéticos, 50% acreditam que ela é hereditária – o que não é sempre o caso –, enquanto 35% associam o diabetes ao stress.
A desinformação pode ser prejudicial para o diagnóstico precoce e o tratamento, afetando a qualidade de vida do paciente. “Algumas pessoas subestimam os perigos por causa da falta de conhecimento, especialmente sobre as consequências de não tratar adequadamente o diabetes. O fato de ser uma doença silenciosa também pode influenciar nessa questão”, comentou José Marcondes, médico do Centro de Diabetes do Hospital Sírio Libanês.
Entenda o diabetes
Para Ruy Lyra, membro da Comissão Internacional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a primeira informação fundamental para entender a doença é saber que existem dois tipos principais, cujas causas, diagnósticos e tratamentos são diferentes.
Diabetes tipo 1
De acordo com a SBD, o diabetes Tipo 1 ocorre quando o sistema imunológico ataca as células betas, responsáveis pela produção de insulina – hormônio que controla os níveis de glicose –, reduzindo ou impedindo sua liberação para o corpo. Quando isso acontece, a glicose fica no sangue em vez de ser usada como energia. O Tipo 1, considerado uma doença autoimune, aparece geralmente na infância ou adolescência, embora haja casos em adultos. Essa variedade, que atinge cerca de 5% a 10% dos diabéticos, é tratada através da insulinoterapia, pela qual é possível controlar os níveis de glicose no sangue.
Diabetes tipo 2
Já o Tipo 2 acontece quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou não produz o suficiente para controla a taxa de glicemia. De acordo com Marcondes, que também é autor do livro “Como cuidar: Diabetes”, os fatores de riscos para o Tipo 2 são histórico familiar, idade, sedentarismo e excesso de peso. Esse tipo de diabetes corresponde por cerca de 90% dos diagnósticos. Embora se manifeste com mais frequência em adultos, principalmente a partir dos 40 anos, pessoas mais jovens também podem apresentar a doença. Já o tratamento – de caráter medicamentoso – é mais personalizado, ou seja, considera as características e necessidades de cada paciente.
Prevenção
Segundo Lyra, ainda não existe nenhuma medida preventiva eficaz para evitar o Tipo 1. Já o Tipo 2 pode ser prevenido com mudanças no estilo de vida (alimentação adequada, controle do peso e prática de exercício físico). “Apenas a mudança de comportamento reduz em até 60% a probabilidade do surgimento do diabetes. Além disso, realizar avaliações periódicas para verificar as taxas glicêmicas é um passo importante na prevenção, especialmente para quem tem histórico familiar da doença”, recomendou.
Durante palestra organizada em São Paulo pela Servier, Boulton apresentou sugestões voltadas tanto para a comunidade médica quanto para os pacientes. Para ele, quando dividido em três fases (primária, secundária e terciária) a prevenção se torna mais eficiente. A prevenção primária, por exemplo, foca na triagem de pessoas com alto risco de desenvolver a doença. Já a secundária avalia pacientes diabéticos para identificar precocemente o desenvolvimento das complicações, que incluem doença ocular e renal. A última etapa compreende os cuidados precoces apropriados para esses indivíduos.
Complicações: como evitar?
Quando não tratado adequadamente, o diabetes eleva o risco de complicações crônicas, como a retinopatia (que pode causar perda visual), nefropatia (responsável pela insuficiência renal, que pode demandar diálise ou transplante de rins), neuropatia (danos nos nervos que causam dores intensas), pé-diabético (úlceras nos pés, que podem levar à amputação de membros inferiores) e doenças cardiovasculares (ataque cardíaco e AVC). Muitas dessas complicações podem causar a morte do paciente.
Para prevenir esses problemas, a orientação é manter glicose, colesterol e pressão arterial sob controle; o monitoramento pode ser feito através da boa alimentação, prática regular de atividade física e utilizar os medicamentos conforme prescrição médica.