Hidroxicloroquina não previne Covid-19, comprova estudo inédito
Um rigoroso estudo feito com 821 pessoas expostas a pacientes infectados pelo vírus mostrou que o medicamento não reduz o risco de infecção
O uso de hidroxicloroquina não foi capaz de prevenir a infecção por coronavírus em pessoas expostas a pacientes doentes. A conclusão é do primeiro ensaio clínico randomizado, controlado e duplo-cego a avaliar a eficácia do medicamento na prevenção da Covid-19. Esse tipo de estudo, no qual os pacientes são selecionados aleatoriamente para receber um tratamento experimental ou um placebo, é considerado a maneira mais confiável de medir a segurança e a eficácia de um medicamento. Os resultados serão publicados no periódico científico The New England Journal of Medicine nesta quarta-feira, 3.
“A mensagem para levar para o público é que, se você é exposto a alguém com Covid-19, a hidroxicloroquina não é uma terapia preventiva e pós-exposição eficaz”, disse David R. Boulware, da Universidade de Minnesota.
Realizado por pesquisadores da Universidade de Minnesota, o estudo incluiu 821 pessoas dos Estados Unidos e do Canadá que tiveram exposição de risco alto ou moderado a pacientes infectados. Cerca de 66% eram profissionais de saúde e os demais foram expostos ao vírus pois moravam na mesma residência que um paciente infectado.
ASSINE VEJA
Clique e AssineTodos os voluntários foram recrutados on-line e a idade média era de 40 anos. Foi considerado risco alto qualquer exposição a uma distância menor que um metro e oitenta entre a pessoa e o doente por mais de dez minutos, sem máscara nem escudo facial. Já no risco moderado, as pessoas usaram máscara, mas não o escudo facial. Todos os participantes eram saudáveis e não tinham problemas de saúde que poderiam tornar perigoso o uso da hidroxicloroquina.
Os participantes foram selecionados aleatoriamente para receber hidroxicloroquina ou um placebo e, em seguida, foram acompanhados por 14 dias. Os resultados mostraram que entre aqueles que tomavam hidroxicloroquina, 11,8% adoeceram. No grupo placebo, a taxa foi de 14,3%. De acordo com os pesquisadores, a diferença não é significativa estatisticamente. A droga também não tornou a doença menos grave.
A apresentação de efeitos colaterais, como náusea, também foi mais comum no grupo que tomou o medicamento: 40,1% em comparação com 16,8% no grupo placebo. Por outro lado, não houve relato de efeitos adversos graves ou problemas com o ritmo cardíaco – um dos principais e mais preocupantes efeitos da hidroxicloroquina é a arritmia.
LEIA TAMBÉM: Dá para transmitir o novo coronavírus pelo sexo?
Vale ressaltar que o medicamento foi enviado diretamente até os participantes e o estado de saúde deles foi aferido por ferramentas on-line aos pesquisadores. Alguns participantes tiveram o diagnóstico da doença confirmado por exames e outros, apenas pelo relato dos sintomas, devido à escassez de testes no período do estudo.
Os resultados vêm em bom momento, dado que muitas pessoas começaram a tomar o medicamento para tentar prevenir a infecção, após o presidente dos Estados Unidos Donald Trump revelar que estava tomando uma pílula por dia de hidroxicloroquina para prevenir a Covid-19, mesmo sem nenhuma evidência sobre a eficácia e segurança da prática. “Eu tenho tomado isso [hidroxicloroquina] há uma semana e meia. Uma pílula todos os dias ”, disse Trump a repórteres na Casa Branca durante um jantar com executivos do setor de restaurantes e da indústria.
O estudo não abordou se a hidroxicloroquina pode prevenir a infecção por coronavírus se o tratamento começar antes de elas serem expostas ao paciente doente. Mas essa possibilidade está sendo estudada em outros ensaios clínicos envolvendo profissionais de saúde e de emergência médica.
OMS retoma estudos com hidroxicloroquina
Nesta quarta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a retomada dos estudos com cloroquina e hidroxicloroquina. Eles haviam sido interrompidos após um grande estudo publicado no periódico científico The Lancet associar o uso do medicamento a um risco aumentado de morte.