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Hospitais investigam uso excessivo de antibióticos na pandemia de Covid

Oswaldo Cruz, em São Paulo, coordena o braço brasileiro do estudo que examinará o aumento de bactérias resistentes durante a crise sanitária

Por Diego Alejandro
28 nov 2022, 16h55
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  • A resistência de bactérias aos antibióticos é uma das maiores ameaças à saúde global atualmente. O uso excessivo e incorreto desses medicamentos, segundo a Organização Mundial da Saúde, poderá ceifar a vida de mais de dez milhões de pessoas ao ano em 2050, o que corresponde a uma morte a cada três segundos. E a pandemia só acelerou esse processo.

    De acordo com Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz, a detecção de bactérias resistentes a antibióticos triplicou ao longo da emergência sanitária causada pelo novo coronavírus. Apenas no período de janeiro a outubro de 2021, o índice já ultrapassava 3,7 mil amostras confirmadas, um aumento de mais de três vezes em relação a 2019, período pré-pandemia. 

    Para aprofundar o conhecimento sobre o problema, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz é o coordenador brasileiro do estudo The Impact of Covid-19 on Antibiotic Use, trabalho internacional e multicêntrico que tem como objetivo, justamente, avaliar o impacto da Covid-19 sobre o uso de antibiótico e o possível aumento da resistência bacteriana decorrente dessa utilização. O estudo é financiado por meio dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). 

    No início da pandemia de Covid-19, como a doença era desconhecida e na maior parte das vezes, grave, muitas vezes os antibióticos foram prescritos equivocadamente, especialmente em pacientes internados em unidades de terapia intensiva. Isso pode ter contribuído para o desenvolvimento de bactérias mais resistentes aos medicamentos, de acordo com o infectologista Ícaro Boszczowski, do Oswaldo Cruz e coordenador nacional do estudo. “Quando se faz uso excessivo de antibiótico, acaba-se por selecionar bactérias mais resistentes porque todas aquelas que são sensíveis à medicação morrem e sobram aquelas mais ‘fortes’. Além disso, a taxa de mortalidade dos pacientes infectados por microrganismos resistentes é maior do que daqueles contaminados pelos sensíveis aos antibióticos”, esclarece.

    Boszczowski e sua equipe foram responsáveis por coletar e avaliar dados de prontuário de internações de pacientes com e sem diagnóstico de Covid-19 ocorridas entre 2018 e fevereiro de 2021. Foram analisados 544 prontuários no Brasil e, ao todo, 1.632 registros presentes nos seis hospitais da América do Sul (Brasil, Argentina e Chile) que participam da pesquisa. A primeira das três fases do trabalho foi concluída. “Os dados mostram que, em 2020, todos os hospitais participantes tiveram aumento súbito do número de leitos de terapia intensiva que variou de 20% na Argentina a mais de 600% no Chile. O consumo de antibióticos também cresceu de 25 a 80% em cinco dos seis hospitais participantes”, relata.

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    O pesquisador destaca que o resultado dessa primeira etapa deve sair no início de 2023. “Estamos armazenando um banco de bactérias resistentes, por meio da coleta de amostras, durante seis meses, com o objetivo de, na segunda fase do estudo, estudarmos os seus mecanismos de resistência”, explica. A expectativa de Boszczowski é que, por meio desse estudo, seja possível aprimorar a expertise para novos enfrentamentos de emergências sanitárias no nível da pandemia do Covid-19 e fazer um mapeamento completo de todas as variantes analisadas para que possam ser combatidas, no caso das bactérias.

    “Acreditamos que ainda vai demorar alguns anos até termos uma avaliação mais precisa sobre os ‘estragos’ causados pela pandemia de Covid-19 no que diz respeito à resistência bacteriana. Por outro lado, conhecer o sequenciamento genético dessas bactérias seguramente vai nos ajudar a entender as consequências de longo prazo deixadas pela pandemia na resistência desses microrganismos, bem como a nos preparar melhor para o enfrentamento de crises semelhantes no futuro”, assegura o médico.

    Também participam da iniciativa órgãos do CDC instalados na Ásia, na Filipinas e Indonésia) e na América do Sul, com dois hospitais participantes na Argentina, dois no Chile. No Brasil, além do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, responsável pelo estudo no país, participam o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e mais de trinta pesquisadores entre médicos, farmacêuticos, enfermeiros, microbiologistas da Divisão de Laboratório Central do HCFMUSP e do Laboratório Fleury.

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