Jovens quebram o tabu de esconder o transplante capilar
Em vez de guardar segredo, eles vão às redes exibir o resultado
Entocados em casa por causa da pandemia, calvos inconformados estão acorrendo às clínicas dermatológicas em busca da única solução definitiva para seu problema: o transplante capilar. A demanda já estava em alta desde que as técnicas se aprimoraram e os preços deram uma caída — no Brasil, custa de 15 000 a 30 000 reais. Mas a regra era manter o procedimento em segredo, como se a súbita cobertura onde antes reinava o deserto fosse obra de um milagre. A novidade agora é a profusão de postagens nas redes sociais de ex-carecas balançando madeixas aos quatro ventos, um movimento de libertação puxado por gente jovem, livre do constrangimento social da relação entre calvície e velhice. O estudante paulista Arthur Malheiros, do alto de seus 20 anos, não esconde que acaba de fazer um transplante. “Sabia que ficaria careca como meu pai e meu avô e resolvi recorrer logo a uma solução definitiva”, diz Malheiros, cliente da clínica que o dermatologista Luciano Lovisi abriu em São Paulo em junho e que, em sua curta existência, já atendeu 270 pacientes.
Juventude e Instagram, aliás, são os motores por trás tanto das revelações de transplantes de cabelo quanto da duplicação da demanda nos últimos cinco anos. “Quanto mais as pessoas falam sobre um determinado assunto, mais a sociedade o vê como normal. Inaceitável, agora, é manter uma aparência diferente da desejada”, diz a psicóloga Lidia Aratangy. Entre as técnicas disponíveis, a mais procurada é conhecida como extração de unidades foliculares: no dia da cirurgia, um desenho a caneta delimita a área a ser preenchida, a cabeça é raspada e uma faixa de fios é transplantada da nuca para a região descoberta. Feito o transplante, o paciente precisa ter paciência: a cicatrização leva, em média, seis meses.
Incomodado com as entradas proeminentes, o ator Malvino Salvador, de 45 anos, aderiu ao transplante capilar há um mês. “O cabelo é parte importante da autoestima de qualquer pessoa e comigo não foi diferente”, argumenta Salvador, que recebeu 2 400 folículos em longas nove horas. As redes sociais registram mais de 230 000 fotos acompanhadas da hashtag #transplantecapilar. Tal qual Salvador, os atores Bruno Gagliasso, Sergio Guizé e Paulo Vilhena fizeram e divulgaram — Vilhena, inclusive, exibiu o antes e depois em 2019. “O procedimento vai além da estética, é uma questão de bem-estar que mudou a forma como eu me relaciono com as pessoas”, afirma ele.
Segundo a Sociedade Internacional de Restauração Capilar, 84% dos pacientes que encaram as espetadelas são homens cada vez mais jovens: 45% dos 735 000 transplantados no ano passado têm entre 26 e 35 anos. O mercado movimenta 25 bilhões de reais e boa parte ficava na Turquia, país que, até se fecharem as fronteiras, era famoso por oferecer um pacote: transplante com estada em hotel e tradutor por 2 000 euros. Sem viagens, os candidatos buscam as clínicas locais.“Faço questão de falar sobre a operação porque temos de fazer o que nos deixa felizes, sem pensar na opinião alheia”, diz o farmacêutico Felipe Ferreira, de 30 anos, que viajou de Curitiba a Porto Alegre para se submeter ao seu transplante. Novos tempos, novo topete, nova atitude.
Publicado em VEJA de 24 de março de 2021, edição nº 2730