Segundo a Organização das Nações Unidas, a desigualdade salarial de gênero no mundo é de 16%, o que significa que as mulheres ganham em torno de 84% do que ganham os homens. Essa diferença pode ser ainda maior no caso das mulheres negras. Em uma tentativa de corrigir essa balança tão desproporcional, a principal organização de financiamento de pesquisa médica e de saúde da Austrália planeja conceder metade de suas bolsas de pesquisa para seu maior programa de financiamento para mulheres e candidatos não binários (que não se percebem como pertencentes a um gênero específico) a partir do próximo ano.
O Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (NHMRC) anunciou a mudança recentemente. Ela será aplicada a pesquisadores em nível intermediário e sênior que se candidatem a bolsas de investigação da agência, que financiam pesquisas e salários. Os subsídios também serão fixados em 400 mil dólares australianos (AUD) cada, cerca de R$ 1,3 milhão.
“É uma mudança de jogo”, diz Anna-Maria Arabia, executiva-chefe da Academia Australiana de Ciências em Canberra. O plano “remove diretamente uma barreira que historicamente levou ao desgaste na força de trabalho de pesquisa e levou à sub-representação significativa de mulheres em níveis seniores”, diz ela.
De 2015 a 2020, o número de mulheres matriculadas em cursos de graduação em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) na Austrália aumentou 24% em comparação com um aumento de 9% no número de homens matriculados. “Precisamos, obviamente, descobrir como mantê-los”, diz Kylie Walker, executiva-chefe da Academia Australiana de Ciências e Engenharia Tecnológicas, uma organização sediada em Canberra que representa cientistas e engenheiros aplicados.
Em 2021, 254 bolsas para pesquisadores foram concedidas, no valor total de AUD$ 400 milhões. Mas quando dois pesquisadores em Melbourne revisaram os dados, descobriram que os homens receberam 23% mais do que as mulheres. Este ano, a agência realizou sua própria revisão dos resultados dos subsídios aos pesquisadores nos últimos três anos e descobriu que a maior lacuna estava entre os pesquisadores mais experientes.
O NHMRC vem trabalhando há uma década para abordar a desigualdade de gênero em seu financiamento de subsídios. Por exemplo, em 2017, introduziu o “financiamento prioritário estrutural”, que reserva dinheiro adicional – cerca de 8% do orçamento geral do subsídio – para aplicações de pesquisa de alta qualidade lideradas por mulheres.
Mas isso não resolveu o desequilíbrio de gênero entre os pesquisadores mais estabelecidos. Em 2021, apenas 20% dos candidatos neste grupo eram mulheres. A modelagem sugeriu que mesmo aumentar a alocação de financiamento prioritário para 20% do orçamento de bolsas para pesquisadores seniores não atingiu a paridade, diz Anne Kelso, executiva-chefe do NHMRC. “A distorção dos números de candidaturas de homens versus mulheres é tão grande na extremidade superior do esquema que o financiamento prioritário estrutural não o leva até lá”, diz ela.
O conselho procurará ver se a concessão de um número igual de subsídios por gênero leva a um aumento no número de mulheres seniores solicitando subsídios de liderança, diz Anne.