O anticoagulante apixabana emergiu como uma promissora intervenção na prevenção de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) relacionados a um tipo de arritmia cardíaca (fibrilação atrial), segundo os resultados do estudo global ARTESiA, co-liderado pelo cardiologista brasileiro Renato Lopes.
Em um amplo escopo, que envolveu mais de 4 mil participantes de 16 países, a pesquisa revelou uma redução significativa no risco de AVC. O destaque reside na abordagem inovadora de se antecipar às repercussões dessa forma subclínica de arritmia cardíaca, imperceptível sem dispositivos cardíacos implantados como marca-passos.
A fibrilação atrial, sendo a arritmia mais prevalente, é responsável por uma significativa parcela de AVCs graves, afetando cerca de 2,5% da população global – aproximadamente 175 milhões de pessoas. “Nosso estudo demonstra de maneira contundente que o uso de anticoagulação oral, como a apixabana, em doentes com fibrilação atrial subclínica (e mesmo com episódios curtos), ou seja, sem sintomas, reduz o risco de AVCs, particularmente os fatais e incapacitantes”, explica Lopes, que também é professor de medicina no Duke University Medical Center, nos EUA.
Além disso, o especialista vislumbra um futuro promissor, em que tecnologias inovadoras, como dispositivos wearables e modernos monitores cardíacos implantados, poderão facilitar o diagnóstico precoce dessa condição, permitindo intervenções preventivas.
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No cenário cardiovascular global, o “Myocardial Ischemia and Transfusion (MINT)”, um outro estudo conduzido pelo Brazilian Clinical Research Institute (BCRI), fundado por Renato Lopes, também apresentado durante o congresso anual da American Heart Association, aborda uma questão crucial no tratamento de pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) e anemia.
Com resultados publicados no New England Journal of Medicine, o estudo revela que a estratégia de “transfusão sanguínea liberal”, que visa manter concentração de hemoglobina acima de 10g por decilitro, está associada a uma redução significativa de 2,4% na mortalidade cardiovascular, em comparação com a estratégia restritiva.
O MINT, o maior ensaio clínico randomizado já realizado nesse contexto, avaliou mais de 3.500 pacientes em diversos países, proporcionando evidências robustas para orientar a decisão médica sobre a abordagem transfusional em pacientes com infarto e anemia.
Com um impacto significativo na prática clínica diária, os resultados fornecem uma contribuição valiosa para melhorar as taxas de sobrevida e reduzir o risco de recorrência de ataque cardíaco, especialmente considerando que doenças cardiovasculares representam a principal causa de mortalidade global.