Protagonista da mais recente crise política do governo, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta traçou um horizonte fúnebre na reunião ministerial desta segunda-feira, 6, e disse ao presidente Jair Bolsonaro que o Brasil, se não seguir à risca as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), corre o risco de enfrentar um cenário parecido com o do Equador. Em Guayaquil, a maior cidade equatoriana, vítimas fatais da Covid-19 se aglomeram nas casas de parentes, corpos são deixados nas ruas, o sistema funerário local está em completo colapso e, com a falta de caixões suficientes, as pessoas estão sendo enterradas em grandes caixas improvisadas, feitas de papelão.
Nesta segunda-feira, no horário reservado para a entrevista coletiva diária do governo sobre o avanço dos casos de coronavírus no Brasil, o presidente convocou uma reunião geral com todos os integrantes do primeiro escalão. Nela, além de afirmar que o Brasil poderia fazer companhia aos equatorianos em um caos funerário, Mandetta voltou a afirmar que não irá pedir demissão. Segundo relatos obtidos por VEJA, o ministro disse que só deixa o governo “demitido ou morto”.
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Clique e AssineO chefe da pasta da Saúde tem sido o alvo preferencial da chamada ala ideológica do governo, que tenta emplacar um nome mais alinhado a teses como a do isolamento vertical e do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, defendidas pelo presidente, para lidar com a pandemia do novo coronavírus. Conforme revelou VEJA, Bolsonaro ameaçou demitir o ministro, mas por ora concordou em manter o auxiliar.
Ao relatar que pretendia resistir às pressões dos que o querem fora do Executivo federal, Luiz Henrique Mandetta citou ensinamento do pai, o também médico ortopedista Hélio Mandetta, segundo o qual “não abandona paciente em nenhuma hipótese antes da cura”, e fez uma defesa ampla de métodos científicos para lidar com a doença que já matou mais de 78.000 pessoas no mundo.
Após a exposição do ministro, o ministro da Casa Civil, general Braga Netto, discutiu reservadamente a permanência de Mandetta no governo e ponderou ao presidente que seria prudente prosseguir com as orientações dadas pela OMS. Segundo interlocutores ouvidor por VEJA, a atuação do general e o cenário macabro descrito por Mandetta foram decisivos para que a demissão do ministro da Saúde fosse postergada.