Medicamento reduz em 25% risco de retorno de câncer de mama mais comum
Tratamento apresentado em reunião da ASCO sugere ainda melhora na sobrevida, mas especialistas ponderam que é necessário acompanhar desfechos futuros
CHICAGO* – Um medicamento utilizado em casos de câncer de mama com metástase demonstrou capacidade de reduzir em 25,2% as chances de retorno da doença na população diagnosticada em fase inicial e com o subtipo mais comum do tumor. O achado foi divulgado na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês), realizada em Chicago, nos Estados Unidos. Mesmo sendo um ensaio de fase 3 e com resultados promissores, especialistas ponderam que desfechos futuros precisam ser acompanhados antes da incorporação da abordagem.
O fármaco ribociclibe (com o nome comercial Kisqali), da farmacêutica Novartis, foi testado em um ensaio com 5.101 mulheres que estavam na pré e pós-menopausa e apresentavam risco de recorrência dos tumores. Elas foram diagnosticadas com o subtipo classificado como receptor hormonal positivo e HER2-negativo, responsável por 70% dos episódios.
Um grupo recebeu a terapia endócrina, um dos tratamentos preconizados em estágios iniciais, e o outro foi tratado com a combinação da terapia com o medicamento, que bloqueia a ação de proteínas que atuam no crescimento das células tumorais.
A recidiva (reaparecimento) é uma preocupação tanto para pacientes quanto para oncologistas. A literatura médica aponta que, em pacientes no estadio II do câncer de mama, a possibilidade de retorno da doença é superior a 30%. O índice é maior que 50% em pacientes estadio III.
Com o uso da droga, além da queda nas chances de recidiva, foi observada uma tendência de melhora da sobrevida geral. “Atender a essa necessidade não atendida em uma população tão ampla de pacientes pode ajudar a simplificar as decisões de tratamento para os profissionais de saúde e manter muitos pacientes em risco livres de câncer sem interromper suas vidas diárias”, disse Dennis Slamon, investigador principal do estudo, batizado como Natalee, em nota divulgada pela Novartis. A farmacêutica informou que deve encaminhar os resultados do estudo para agências reguladoras nos Estados Unidos e na Europa até o fim deste ano.
Apesar dos achados, uma possível incorporação da abordagem é algo que deve ser discutido, segundo Luciana Landeiro, oncologista clínica do Grupo Oncoclínicas.
“Do ponto de vista prático, apesar de os dados serem animadores, a gente precisa acompanhar mais tempo para avaliar a maturidade desse benefício para aprovar a indicação para os nossos pacientes, porque 80% das pacientes ainda estavam recebendo a medicação quando foram analisadas”, afirma. “Teremos de acompanhar as curvas e impactos na sobrevida global das pacientes.”
Outro ponto é que a droga não é a primeira a trazer os benefícios para pacientes oncológicas com tumores dessa natureza, embora possa complementar o arsenal de fármacos para este fim. No Brasil, por exemplo, outro medicamento com atuação e indicação semelhantes, o abemaciclibe (Verzenios, da farmacêutica Eli Lilly), recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento de mulheres com o mesmo perfil das pacientes avaliadas no Nactalee em agosto de 2021.
*A repórter viajou a convite da Bayer