Ministro da Saúde sugere alterar recomendação de calorias diárias
Segundo Ricardo Barros, alterar a recomendação máxima de calorias seria uma forma de evitar o excesso de peso em pessoas sedentárias
Para o ministro da Saúde Ricardo Barros, alterar a recomendação do consumo diário de calorias para adequá-la ao estilo de vida de uma pessoa sedentária seria uma forma de combater a obesidade. Segundo o ministro, a tecnologia e o estilo de vida atual contribuem para o sedentarismo da população, logo, um limite de ingestão calórica compatível com essa rotina seria uma forma de prevenir o excesso de peso.
“A alimentação hoje é baseada no que aprendemos em casa. Antes, o trabalho era principalmente braçal, então as pessoas comiam e gastavam aquelas calorias no trabalho… Tínhamos que pedir para as crianças voltarem para casa no fim do dia, hoje temos que implorar para elas saírem. Seria uma opção as recomendações se adaptarem a essa realidade”, sugeriu o ministro durante um debate sobre o impacto do consumo de açúcar na saúde da população realizado no Ethanol Summit 2017, em São Paulo.
Segundo Eduardo Leão de Souza, diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), essa é a primeira vez que o tema é incluído no evento e a decisão foi motivada pela “vilanização” do alimento, que tem prejudicado o setor. De fato, há um excesso de açúcar na alimentação do brasileiro. Dados do Vigitel mostraram que cada pessoa consome cerca de 30,07 quilos de açúcar por ano no país, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma ingestão máxima de 18,25 quilos anuais, o que equivale a 10% das calorias diárias (cerca de 50 gramas por dia).
Sedentarismo e má alimentação
Porém, esse não é o único culpado pelo aumento da obesidade e do sobrepeso no Brasil. Conforme ressaltaram o cardiologista e nutrólogo do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia Daniel Magnoni e o preparador físico Marcio Atalla durante o evento, a má alimentação em geral do brasileiro com o baixo consumo de alimentos do reino vegetal e o sedentarismo contribuem para esse quadro.
“Há um foco excessivo em achar um vilão na alimentação, um culpado para a obesidade, porque é mais fácil proibir um alimento do que fazer alterações no estilo de vida. Enquanto não houver um combate ao sedentarismo, não conseguiremos frear a obesidade.”, afirmou Atalla.
O especialista chama atenção para as recomendações da OMS. Segundo ele, todos se preocupam com as recomendações da entidade relacionadas à alimentação, como a quantidade máxima de açúcar ou sódio, mas ninguém dá importância para a orientação referente ao mínimo de atividade física.
“O sedentarismo é um problema de saúde pública e o meio ambiente atual com toda a tecnologia disponível contribui para essa propagação. É simples incorporar ações ao dia a dia que combatam a falta de atividade física, por exemplo, é possível substituir o elevador pela escada e fazer caminhadas de 3 minutos após uma hora sentado.”, afirma Atalla.
Uma pesquisa realizada com 1 200 pacientes do Instituto Dante Pazzanese mostrou que a maioria das pessoas que consome açúcar diariamente, mas também realiza atividade física não está com sobrepeso nem obesidade. “Açúcar, de forma moderada, não é causa direta das doenças cardiovasculares, do diabetes e da obesidade”, ressalta Magnoni.
Ações do governo
Para o deputado federal Evandro Roman, presidente da Frente Parlamentar Mista de Combate e Prevenção da Obesidade Infantojuvenil, é necessário uma união de ações para combater a obesidade na infância e adolescência, caso contrário será como “enxugar gelo para o resto da vida”. Segundo o deputado, a frente irá trabalhar simultaneamente com três variáveis: alimentação, atividade física e qualidade do sono, fatores cruciais para enfrentar o problema.
Na ocasião, Barros afirmou também que o Ministério tem trabalhado para controlar o efeito prejudicial do excesso de sódio e açúcar na alimentação do brasileiro, como o excesso de peso e a obesidade, em medidas como a redução progressiva dessas substâncias em alimentos e bebidas industrializadas e afirmou que a pasta está estudando ações adicionais como a alteração da rotulagem para enfatizar a quantidade de açúcar nos produtos, a criação de um dosador padrão de sal e açúcar para que as pessoas saibam a quantidade consumida e a proibição de bebidas refil em restaurantes no Brasil.
Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (Abia), afirmou que a indústria já está estudando formas de reduzir o açúcar adicionado aos alimentos, já que a substância desempenha um papel importante na estrutura físico-química dos alimentos. Segundo ele, o plano será anunciado no segundo semestre deste ano e irá incluir produtos lácteos, bebidas adoçadas, biscoitos, bolos e achocolatados.