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Mortes por aids caem no Brasil, mas impacto da disparidade racial persiste

Houve aumento de casos de HIV entre pretos e pardos, representando mais da metade das ocorrências desde 2015, informa governo

Por Diego Alejandro
1 dez 2023, 13h54

Nos últimos dez anos, o Brasil testemunhou uma redução significativa de 25,5% no coeficiente de mortalidade por aids, síndrome causada pela infecção por HIV quando não tratada. Apesar dessa melhora, em média 30 pessoas morreram por dia devido à doença no último ano –  sendo 61,7% dos óbitos entre pessoas negras (47% em pardos e 14,7% em pretos). É o que aponta o novo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.

“É um fator histórico. A população negra é mais negligenciada e tem difícil acesso às formas de prevenção”, afirma o médico Rodrigo Molina, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia. “Além disso, a população branca tem mais acesso à informação e escolaridade mais alta, condições fortemente ligadas à diminuição dos riscos ligados à doença”.

Mas não foi sempre assim. Na análise da variável raça/cor, observou-se que, até 2013, a cor de pele branca representava a maior parte dos casos de infecção pelo HIV. Nos anos subsequentes, houve um aumento de casos notificados entre pretos e, principalmente, em pardos, representando mais da metade das ocorrências desde 2015.

Em 2022, entre os casos de infecção pelo HIV notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), 29,9% ocorreram entre brancos e 62,8% entre negros (13% de pretos e 49,8% de pardos). 

No mesmo ano, entre os homens, 30,4% dos casos notificados ocorreram em brancos e 62,4% em negros (12,8% de pretos e 49,6% de pardos); entre as mulheres, 28,7% dos casos se referem a brancas e 64,1% a negras (13,8% de pretas e 50,3% de pardas). Dos 36.753 episódios diagnosticados, 60,1% estão entre a população negra.

Esta grave realidade é somente a superfície do problema, dado que, por muitos anos, para preencher o campo campo raça/cor do Cartão Nacional de Saúde, era permitido o registro ‘sem informação’, criando uma camada inteira de casos desligados ao panorama racial. Porém, a partir de 2023, o Ministério da Saúde tornou obrigatório o preenchimento para aprimorar os indicadores de saúde e guiar políticas públicas de combate ao racismo.

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+ LEIA TAMBÉM: Governo atualiza protocolo de tratamento do HIV

Mulheres desprotegidas

Estima-se que 1 milhão de pessoas vivam com HIV no Brasil. Desse total, 650 mil são do sexo masculino e 350 mil do sexo feminino. 

Enquanto 92% dos homens estão diagnosticados, apenas 86% das mulheres possuem diagnóstico; 82% dos homens recebem tratamento antirretroviral, número que entre as mulheres cai para 79%. O levantamento mostra que 96% dos homens estão com a carga viral suprimida – quando o risco de transmitir o vírus é igual a zero –, mas o número fica em 94% entre as mulheres.

Para acabar com a aids como problema de saúde pública, a Organização das Nações Unidas definiu metas globais: ter 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas; ter 95% dessas pessoas em tratamento antirretroviral; e, dessas em tratamento, ter 95% com carga viral controlada.

Hoje, em números gerais, o Brasil possui, respectivamente, 90%, 81% e 95% de alcance das metas. O Ministério da Saúde reafirma que possui os insumos necessários e já aumentou em 5% a quantidade total de pessoas em tratamento antirretroviral em relação a 2022, totalizando 770 mil cidadãos.

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PrEP faz parte da solução

Para o infectologista Rodrigo Molina, o principal motivo da queda de casos na população branca e aumento na negra é a implementação – e falta de acesso – da Profilaxia Pré-Exposição, mais conhecida pela sigla PrEP. Ela consiste na utilização diária de uma combinação de dois medicamentos antirretrovirais (tenofovir + entricitabina), que apresentam composição similar aos usados no tratamento do HIV, e reduz em mais de 90% as chances de uma pessoa se infectar quando exposta ao vírus.

Dados do Painel PrEP, disponibilizado no site do governo, indicam que 118 mil pessoas começaram a usar a PrEP em todo o Brasil desde 2018, ano de início da oferta. Somente nos três primeiros meses de 2023  foram 12.343 novos usuários. No mesmo período do ano passado, foram 8.393 de 2022. 

Os números consolidam o Brasil como líder no quesito na América Latina, e, de acordo com especialistas, ajuda a explicar as sucessivas quedas de novos casos registrados de HIV: entre 2019 e 2021, o número de casos de infecção pelo HIV declinou 11% no Brasil, com maior percentual de redução nas regiões Sul (15,4%) e Sudeste (15,3%).

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