No mês passado, Arifa Sultana, de 20 anos, foi levada a um hospital de Bangladesh, onde deu à luz seu primeiro bebê. No entanto, 26 dias depois, ela foi encaminhada a outro hospital por causa de dores no baixo-ventre. Lá, os médicos descobriram que ela estava em trabalho de parto. De novo. E, dessa vez, viriam gêmeos. “Ficamos chocados e surpresos”, comentou Sheila Poddar, ginecologista responsável pelo caso, à BBC. O fenômeno é causado por uma condição relativamente rara chamada de útero didelfo, caracterizado pela existência de dois úteros dentro do corpo feminino.
O útero didelfo pode ser facilmente diagnosticado através de uma ultrassonografia. Entretanto, Arifa pertence a uma comunidade rural pobre e, por causa disso, ela nem sequer realizou o exame durante a primeira gestação, quando teria sido possível descobrir a presença do segundo útero e dos gêmeos. Apesar das circunstâncias inusitadas, a jovem passou por uma cesariana sem complicações.
“Quando a paciente chegou, fizemos uma ultrassom e descobrimos que haviam gêmeos. [Felizmente] eles nasceram saudáveis e foram liberados do hospital quatro dias depois”, disse Sheila. Segundo especialistas, as três crianças provavelmente foram concebidas ao mesmo tempo, mas aquela que estava no outro útero nasceu prematuramente. Isso teria acontecido porque os úteros são independentes um do outro e, portanto, podem ter contrações em períodos distintos, o que tornaria possível partos separados.
A independência também se estende à liberação de óvulos. “É provável que três óvulos tenham sido liberados e fertilizados ao mesmo tempo durante o período fértil [de Arifa], o que resultou na formação de três embriões”, comentou Christopher Ng, da GynaeMD Clinic, em Singapura, à BBC. Neste caso, um útero liberou dois óvulos (que geraram os gêmeos fraternos) e o outro liberou apenas um óvulo (formando o primeiro bebê).
Útero didelfo
De acordo com especialistas, o útero didelfo ocorre ainda durante o desenvolvimento fetal feminino. “O útero normalmente começa como dois tubos que se fundem para criar o útero. Mas, para algumas mulheres, a fusão dos tubos não acontece e a parede divisória não se dissolve, o que forma dois úteros separados“, explicou S.N. Basu, do hospital Max Healthcare, na Índia, à CNN.
Esse não é o primeiro caso a ganhar repercussão na mídia. Em 2011, uma mulher americana deu à luz dois bebês gerados em dois úteros. Na época, os médicos disseram que a probabilidade de algo assim acontecer era de 1 em 5 milhões. Hoje, sabe-se que essa condição não é tão rara, ocorrendo para 1 em cada 2.000 mulheres, de acordo com a Scientific American.
Segundo a Mayo Clinic, renomado hospital dos Estados Unidos, na maioria das vezes, úteros duplos não interferem na vida da mulher (sexo, gravidez e parto). Entretanto, em alguns casos, a condição pode causar infertilidade, aborto espontâneo, parto prematuro e/ou anormalidades renais. Uma mulher britânica, por exemplo, revelou a um programa de TV que sua condição a fez desenvolver dois sistemas reprodutivos, ou seja, dois úteros, dois colos de útero e duas vaginas. Todos funcionam separadamente.