Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Nada é proibido: as novas recomendações contra alergias na infância

Um novo entendimento recomenda que, para evitar crises, as crianças sejam expostas a todos os alimentos entre 6 meses e 1 ano de idade

Por Cilene Pereira Atualizado em 4 jun 2024, 12h27 - Publicado em 12 mar 2022, 08h00

Alergias alimentares estão na lista dos pesadelos de qualquer pai ou mãe. Como em geral é muito difícil saber se os filhos têm predisposição para apresentar reações exacerbadas a algum nutriente, sempre houve o temor de que essas respostas aparecessem ao primeiro contato dos bebês com os alimentos. Por isso, durante muito tempo prevaleceu na medicina a orientação de que ingredientes sabidamente alérgenos deveriam ser incluídos na dieta infantil apenas depois da introdução de refeições sólidas e de forma bem espaçada. Uma safra recente de pesquisas mostra que a história é bem diferente: quanto mais cedo os alimentos forem oferecidos aos pequenos, menor o risco de eles apresentarem alergias, especialmente as severas.

Tradicionalmente, os ingredientes que mais causam reações em crianças e em adultos são leite de vaca, ovo, frutos do mar, peixes, amendoim, castanha, soja e trigo. A alergia acontece como resposta do corpo a compostos presentes nos alimentos que são classificados pelo sistema imunológico como prejudiciais ao organismo. O ataque das células de defesa faz disparar a produção de uma cascata de substâncias, entre elas a histamina, associada à inflamação. Em tese, tudo isso ocorre para proteger o corpo. Mas a resposta exagerada das defesas leva à progressão de um processo inflamatório extremamente danoso. Há graus na manifestação dos sintomas — de coceiras e erupções passageiras na pele à parada respiratória. As reações podem simplesmente passar com o tempo ou se prolongar pela vida adulta. Isso é bastante comum na alergia ao amendoim. Em geral, estima-se que cerca de 8% das crianças e 3% dos adultos apresentem crises alérgicas.

No tempo em que o processo alérgico era razoavelmente desconhecido pela ciência, havia uma regra de ouro: precaução. Ela ditava o afastamento das comidas que mais provocam reações indesejadas dos pratos das crianças até os 2, 3 anos. No entanto, descobriu-se que muitos dos sintomas interpretados como sendo de hipersensibilidade alimentar eram reflexos da imaturidade dos sistemas imunológico, nervoso e gastrintestinal dos bebês.

arte alergia

As recentes revelações são atalho para uma mudança comportamental no cotidiano das famílias. Prevenir a alergia continua sendo muito difícil, porém a exposição aos alimentos mais alérgenos entre 6 meses e 1 ano de vida baixa consideravelmente a possibilidade de sua ocorrência. “Descobrimos que não havia sustentação científica para a orientação anterior”, diz a médica Jackeline Motta Franco, coordenadora do Departamento de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). “Já não se deve retardar a apresentação dos alimentos para um ano depois do nascimento do bebê.” É, de fato, uma revolução.

Continua após a publicidade

Os resultados da mudança nas recomendações pelas sociedades científicas mundiais começam a surgir. Uma recente pesquisa feita por duas das mais reputadas instituições australianas de ciência para a nutrição demonstrou que a alteração nas diretrizes teve impacto decisivo na queda de casos de reações alérgicas alimentares graves em crianças. Segundo o estudo, publicado no periódico The Journal of Allergy and Clinical Immunology, na faixa de 1 a 4 anos, a taxa anual de aumento de internações por anafilaxia alimentar caiu de 17,6% ao ano entre 1999 e 2007 para 6,2% ao ano entre 2008 e 2015 e depois 3,9% ao ano desde 2016, quando se estabilizou. Entre 1999 e 2007, a orientação era evitar alimentos alergênicos na faixa de 1 a 3 anos. A partir de 2008, a indicação foi para não atrasar a introdução desses alimentos. Desde 2016, a orientação é oferecê-los com frequência e desde cedo para os bebês — e os resultados dessa nova postura começam a despontar.

No Brasil, ainda não há dados confiáveis sobre o impacto das transformações. Existe, no entanto, preocupação dos especialistas com diagnósticos excessivamente cuidadosos. As alergias são um problema, não há dúvida. Contudo, tratar como processo alérgico algo que não é representa risco à saúde. “A restrição desnecessária leva a estigmas nutricionais, psicológicos e sociais”, diz a médica Renata Cocco, integrante do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Asbai. O segredo, mais uma vez, está em acertar o diagnóstico para não incluir alimentos que provocam reações e tampouco tirar do prato a comida certa. Mas há um ponto em torno do qual parece não haver mais hesitação: os bebês não são tão frágeis assim. Eles podem comer mais do que imaginamos.

Publicado em VEJA de 16 de março de 2022, edição nº 2780

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.