Pandemia lança corrida por laboratórios de biossegurança de alto nível
Mais de 40 unidades para lidar com agentes patológicos estão atualmente em construção em todo o mundo

No mês passado, a revista The Lancet publicou um relatório que criticava a resposta dos governos e outros órgãos à pandemia da Covid-19. Entre muitos tópicos abordados, o documento cita a falta de cooperação operacional, que prejudicou tanto na distribuição da vacina quanto na criação de uma frente unificada de pesquisa. Levando isso em conta ou não, houve um avanço: mais de 40 laboratórios de biossegurança de alto nível em todo o mundo estão atualmente em construção em países como Índia, Filipinas e Singapura. Eles são necessários para a manipulação e estudo de microrganismos pertencentes a quatro classes de risco.
A falta de laboratórios de alta segurança em algumas regiões se tornou aparente durante a pandemia, porque o trabalho com o novo coronavírus vivo deve ser feito em uma instalação com Nível de Biossegurança 3 (NB3) ou superior.
“A pandemia expôs a fraqueza dos sistemas de saúde em todo o mundo em reconhecer e responder a ameaças emergentes na saúde pública”, disse Bharati Pawar, ministra da saúde e bem-estar da família da Índia, em uma cerimônia para marcar o início da construção de um novo laboratório no país, no mês passado. “Para estar preparado, é necessário laboratórios prontos”, disse ela.
Os planos da Índia estão entre os mais ambiciosos. O país está em processo de construção de cinco instalações NB3 e está planejando pelo menos mais nove. Quatro instituições também disseram que construirão laboratórios NB4, o mais alto nível de contenção. A Índia atualmente tem apenas uma instalação desse tipo que em operação. E o governo se comprometeu a construir quatro novos institutos nacionais de virologia, dois dos quais também lidarão com patógenos NB4.
Em outros lugares da Ásia, Cazaquistão, Singapura e Filipinas anunciaram planos para construir suas primeiras instalações NB4. Além da região, os Estados Unidos se comprometeram a adicionar outro laboratório do mesmo tipo ao seu grupo de uma dúzia de instalações de contenção máxima. Já a Rússia anunciou no ano passado que construirá 15 laboratórios NB4, embora os detalhes sejam escassos.
Os investimentos em laboratórios aumentam geralmente após grandes epidemias, porém, embora eles ofereçam mais capacidade para lidar com agentes patológicos, o alto custo de manutenção se torna um obstáculo.
Thomas Ksiazek, virologista que chefia as operações de alta contenção no Galveston National Laboratory, no Texas, uma instalação NB4, explicou à Nature que o laboratório de sua equipe recebe cerca de US$ 12 milhões por ano do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas apenas para manutenção e operações, com cerca de US$ 2 milhões dos quais são gastos em segurança 24 horas. Outros US$ 2 milhões são necessários para alimentar a ventilação, aquecimento e ar condicionado, bem como para operar a parte NB3 do laboratório.
Alguns pesquisadores também temem que ter mais desses laboratórios aumente os riscos associados a eles, inclusive de trabalhadores serem infectados.
Evidências sugerem que o novo coronavírus foi transmitido de animais selvagens para humanos, provavelmente, em um mercado de animais vivos em Wuhan, China. O Brasil anunciou, em 2021, a construção de um laboratório NB4 junto ao Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP). Porém, o plano nunca saiu do papel.