Mulheres que vivem em regiões muito poluídas correm maior risco de desenvolver Alzheimer. De acordo com um estudo publicado no periódico científico Translational Psychiatry, a probabilidade de desenvolvimento de demência é ainda maior naquelas que são portadoras da variante genética APOE-e4, que já é um importante fazer de risco para a doença. As informações são do jornal americano LA Times.
Poluição e risco genético
No estudo, pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, acompanharam, ao longo de dez anos, a saúde cognitiva de mulheres com idade entre 65 e 79 anos. Os resultados mostraram que as participantes portadoras da variante genética APOE-e4 corriam um risco três vezes maior de desenvolver Alzheimer se estivessem expostas altos níveis de poluição do ar, em comparação com aquelas que não carregam o gene.
Entre as participantes que tinham a variação genética, aquelas que viviam em áreas com muita poluição tinham uma probabilidade quatro vezes maior de apresentar algum tipo de declínio cognitivo – perda mensurável de memória e pouca habilidade de raciocínio – do que aquelas que respiravam um ar mais limpo.
Para uma análise mais completa dos possíveis estragos que a poluição pode causar no cérebro, além do acompanhamento das mulheres, os pesquisadores também realizaram experimentos em laboratório com cobaias e tecidos cerebrais. Os resultados mostraram que a exposição às partículas emitidas por motores, usinas de energia e queima de produtos de biomassa, como a madeira, aumenta não só os sinais comportamentais clássicos da demência, como desorientação e perda de memória, mas também suas características menos óbvias, como aumento de proteína beta amiloide e morte de células no hipocampo do cérebro, um centro-chave para a formação de memória.
Estudos anteriores já haviam relacionado a poluição do ar a outros problemas como asma e problemas cardíacos e respiratórios. Esse estudo mostra que o problema ambiental também pode ter um forte impacto no envelhecimento do cérebro.
Regulamentação da poluição
No novo estudo, os pesquisadores utilizaram padrões de poluição atmosférica estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês). Eles estimam que, antes de a EPA definir novos padrões de poluição do ar em 2012, cerca de 21% dos novos casos de demência e de declínio cognitivo acelerado provavelmente poderiam ser atribuídos à poluição do ar.
Ainda existe a possibilidade de nem mesmo os padrões atuais serem seguros para o cérebros em envelhecimento ou para cérebros que são geneticamente vulneráveis à doença de Alzheimer, segundo Jiu-Chiuan Chen, especialista em saúde ambiental da Escola de Medicina Keck da USC e autor sênior do estudo.
“Se as pessoas na atual administração estão tentando reduzir o custo do tratamento de doenças, incluindo a demência, então eles devem saber que relaxar os regulamentos da Lei do Ar Limpo (tradução livre do inglês Clean Air Act) vai fazer o oposto.”, afirmou Chen.
Atualmente, o EPA é obrigado a considerar o impacto da poluição sobre a saúde de “populações vulneráveis.” A agência também é obrigada a usar a sua autoridade reguladora para tomar medidas para proteger essas populações. O novo estudo mostra que pessoas com uma predisposição genética para desenvolver a doença de Alzheimer são muito mais sensíveis aos efeitos da poluição do ar e, portanto, devem ser consideradas pelo órgão.
O estudo também vem para reforçar a importância da manutenção das políticas atuais de poluição do ar em uma época em que ela está ameaçada. O governo Trump já sinalizou que irá eliminar ou reescrever substancialmente os regulamentos da administração Obama que apertaram as emissões das usinas de energia e estabeleceram padrões mais rígidos de eficiência de combustível para carros em um esforço para conter as mudanças climáticas e reduzir a poluição do ar.