Segundo especialistas, crianças que passam muito tempo usando aparelhos eletrônicos, como celular, tablet e computador, apresentam maior comportamento sedentário, fator de risco para obesidade, que pode, no futuro, provocar doenças cardiovasculares e diabetes. Por causa disso, a Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês) recomenda que os pais limitem o tempo de uso destes dispositivos para que seus filhos aproveitem o tempo livre para praticar brincadeiras mais saudáveis.
Eles também sugerem que os adultos evitem utilizar os aparelhos perto das crianças e deem mais atenção a elas quando estiverem juntos. “Quando você está com seus filhos, é preciso desligar o telefone ou tablet e conversar com eles, se engajar, porque eles captam exatamente o que você está fazendo”, disse a cardiologista Tara Narula à CBS News.
De acordo com a AHA, crianças e adolescentes de 8 a 18 anos passam uma média de mais de sete horas por dia usando celulares, computadores, tablets e videogames, tempo que precisa sofrer um corte drástico. Para a entidade, o limite deve ser de no máximo duas horas por dia. Para crianças menores, de 2 a 5 anos, a recomendação é de uma hora diária.
Um estudo de 2016 realizado pela Academia Americana de Pediatria apresenta os possíveis problemas aos quais as crianças podem estar sujeitas ao passarem muito tempo usando aparelhos tecnológicos, entre eles a obesidade e dificuldades para dormir, e confirma as recomendações da AHA para a necessidade de limitar a utilização dos dispositivos.
Riscos do sedentarismo
Diversas pesquisas têm vinculado o excesso de horas em frente às telas a um aumento do comportamento sedentário em crianças e adolescentes. Ainda que não existam evidências a longo prazo que conectem essas horas ao maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, há sinais crescentes de que a obesidade está associada a esse costume. Stephen Daniels, cardiologista e porta-voz da AHA, explica que o tempo de tela está associado ao excesso de peso, que, por sua vez, está relacionado ao colesterol alto e pressão alta.
Quando os fatores de risco estão presentes na infância, a tendência é continuarem na vida adulta. “A saúde do coração começa durante a infância, então acho muito apropriado que a Associação Americana do Coração examine todas as questões que podem contribuir para doenças cardíacas”, alertou David Hill, da Academia Americana de Pediatria, em entrevista à CNN.
Especialistas acreditam que os eletrônicos influenciam o comportamento alimentar já que as crianças costumam petiscar enquanto usam os dispositivos e, por estarem tão distraídos pelo que veem, não notam a saciedade e continuam comendo. Esse fator pode acarretar em excesso de peso. Outro problema é a intensa exposição à publicidade de alimentos pouco saudáveis nos dispositivos que também pode influenciar a alimentação das crianças, especialmente quando os pais são mais liberais quanto a este quesito.
Além disso, a luz azul das telas pode dificultar a capacidade de adormecer. “Há evidências de que as telas estão prejudicando a qualidade do sono, o que também pode aumentar o risco de obesidade”, explicou Tracie Barnett, pesquisadora do Centro de Pesquisa do Hospital Universitário Sainte-Justine, no Canadá, em nota. Diante disso, os adultos devem garantir que as crianças não usem os aparelhos antes de dormir.
Desafio para os pais
As recomendações não ignoram o momento atual em que as redes sociais e a internet se tornaram tão interligadas à vida cotidiana que pode ser difícil controlar o tempo de uso dos dispositivos. Entretanto, especialistas ressaltam que nem todas as mídias e tecnologia digital trazem malefícios para as crianças. David Hill, por exemplo, contou à CNN que seu filho mais novo começou a usar um rastreador fitness aos 11 anos e diariamente conta ao pai quantos passos deu durante o dia. O garoto conheceu o aparelho por meio da internet.
“As crianças podem ser apresentadas a novas ideias, informações, eventos atuais; podem entrar em contato com educação para a saúde que não obteriam em circunstâncias diferentes. Os pequenos também têm a chance de se conectar com familiares e amigos que moram longe. E podem se envolver em projetos e tarefas escolares”, salientou Tara.
Ainda assim, a limitação tem que ser estabelecida e precisa ser feita pelos pais, que não devem esquecer de encorajar os filhos a participarem de atividades ao ar livre e interagirem com outras crianças no período em que estão longe dos dispositivos. Os benefícios podem ser ainda maiores se existirem “zonas livres” de eletrônicos, como durante as refeições. Esse hábito pode ser adotado pela criança de tal forma que na vida adulta ela vai continuar respeitando essa ‘regra’. Mas, é claro, os pais precisam dar o exemplo, pois as crianças agem de acordo com o que veem em casa.