Prótese orgânica pode tratar cegueira degenerativa
Novo dispositivo devolveu fotossensibilidade a ratos com retinite pigmentosa e deve ser testado em humanos ainda neste ano
Cientistas italianos desenvolveram uma nova prótese de retina que pode devolver parte da visão a quem sofre de cegueira degenerativa. Em ratos, o experimento proporcionou uma significativa restauração das funções visuais, permitindo que os animais se orientassem pela luz. O estudo foi publicado na semana passada na revista científica Nature Materials, e os testes em humanos devem começar no segundo semestre de 2017.
Retinite pigmentosa
A retinite pigmentosa é um tipo de degeneração da retina que leva à perda da visão. Pacientes afetados sentem, inicialmente, cegueira noturna seguida de redução do campo visual.
Mais de 20 milhões de pessoas ao redor do mundo são cegas ou estão em risco de ficar por causa de doenças degenerativas que afetam a retina, como a degeneração macular e a retinite pigmentosa. Nos olhos saudáveis, quando uma imagem entra na retina, ela é transformada em padrões de impulsos elétricos que são transportados ao cérebro pelos neurônios. Essas doenças danificam algumas das células responsáveis por fazer essa tradução, os fotorreceptores, enquanto outras ficam intactas.
Nova prótese de retina
O novo mecanismo é formado por camadas fotoativas de polímeros e de fibroína – proteína insolúvel criada por aranhas e bicho-da-seda. Quando instalados cirurgicamente, no meio da retina dos animais cegos, esses materiais respondem à luz e ativam os neurônios restantes no olho degenerado. No entanto, os cientistas admitiram no artigo que “o processo detalhado da atuação da prótese permanece incerto”.
Segundo o estudo, a invenção difere das outras próteses já concebidas e estudadas por ser totalmente orgânica, ter total autonomia de operação e alta duração. Além disso, o material é “flexível e confortável”, sendo mais tolerável para o corpo. Outra vantagem é que, como a prótese é feita com ingredientes naturais, não apresenta a necessidade de recarga ou manutenção frequente.
Para testar sua eficácia, os pesquisadores utilizaram ratos com retinite pigmentosa herdada geneticamente e ratos saudáveis. Eles inseriram a prótese em parte dos animais cegos e não trataram o restante, para comparação. Depois de trinta dias da inserção, o reflexo das pupilas dos ratos operados à luz não foi muito melhor que a dos não tratados quando estimulados com uma iluminação fraca, um pouco mais brilhante que a de uma lua cheia. Mas, com uma claridade mais forte, como a de um crepúsculo, a resposta dos animais com a prótese foi bem melhor, semelhante à de indivíduos saudáveis.
Por meio de tomografias, os cientistas observaram que o cérebro dos animais tratados apresentava um aumento de atividade no córtex visual primário, que processa a informação visual. Eles acreditam que esse é o caminho para curar a cegueira provocada por doenças degenerativas, como a retinite pigmentosa, com próteses totalmente orgânicas, compatíveis com o olho humano e autônomas.
Tratamentos para a cegueira
Atualmente, já estão disponíveis os implantes de olhos biônicos. Eles também são próteses colocadas na retina, mas, nesse caso, se trata de um receptor eletrônico desenvolvido para interpretar imagens capturadas por uma microcâmera de vídeo, instalada em um par de óculos. Outro tratamento foi concebido em 2012 por pesquisadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Eles desenvolveram um modelo similar ao italiano, só que artificial. O dispositivo americano reproduz o código normalmente usado pela retina para se comunicar com o cérebro, permitindo aos ratos cegos enxergarem novamente. Há também uma terapia genética, desenvolvida em 2010, que restaura as células afetadas pela retinite pigmentosa.