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Expectativa de vida menor em países desenvolvidos preocupa especialistas

De acordo com estudo, queda pode estar relacionada à temporada severa de gripe que atingiu algumas regiões do hemisfério norte nos últimos anos

Por Da Redação
Atualizado em 22 ago 2018, 18h27 - Publicado em 21 ago 2018, 18h04

Pela primeira vez em décadas, a expectativa de vida em países desenvolvidos diminuiu. De acordo com um estudo publicado recentemente no British Medical Journal (BMJ), o aumento no número de mortes pode estar relacionado à temporada severa de gripe que atingiu algumas regiões do Hemisfério Norte. De acordo com especialistas, a tendência é um sinal de alerta para o fato de que os sistemas de saúde podem não estar preparados para lidar com novos desafios.

“O fato de os sistemas modernos de saúde nos países mais avançados não conseguirem lidar com esse desafio inesperado, resultando nas primeiras reduções na longevidade por décadas, é impressionante e pode sinalizar problemas mais profundos”, disse Domantas Jasilionis, pesquisador do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, na Alemanha, à CNN.

Os registros foram observados entre 2014 e 2015, considerando estimativas de tendência geradas a partir de estatísticas oficiais, que forneceram informações sobre a mortalidade da população em dezoito países analisados (Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, , Holanda, Itália, Japão, Noruega, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça).

Os únicos países dentro do espectro de alta renda que apresentaram aumento na expectativa de vida – tanto para homens quanto para mulheres – foram Austrália, Japão, Dinamarca e Noruega. Mas os cientistas não sabem explicar o motivo desse resultado. Segundo os pesquisadores, a diminuição da taxa em países como Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Espanha e Reino Unido, foi notável, especialmente pela magnitude dos declínios.

Outro dado interessante é que enquanto a maioria dos países que demonstraram declínios gerais entre 2014 e 2015 conseguiu se recuperar entre 2015 e 2016, mostrando ganhos na expectativa de vida para compensar a perda anterior, EUA e Reino Unido foram exceções, continuando a mostrar declínios na expectativa de vida nos anos mais recentes. Entre os motivos para essa inclinação estão desigualdade social, pobreza e o declínio da qualidade da prestação de cuidados de saúde nesses locais.

Possíveis causas

Além da gripe, doenças respiratórias, cardiovasculares, Alzheimer e outros distúrbios neurológicos e mentais podem ter contribuído para a redução da longevidade em indivíduos acima dos 65 anos. Jasilionis acredita que os resultados apresentam uma problemática em torno da prestação de serviços de saúde nesses países.

Além disso, ameaças ambientais, como poluição e má qualidade do ar, também se tornaram obstáculos à elevação da expectativa de vida. “Em minha opinião, a questão da suscetibilidade à gripe e problemas respiratórios aponta para questões crescentes de problemas ambientais, como poluição”, explicou Holly Nelson-Becker, especialista em gerontologia social na Universidade Brunel, na Inglaterra. Vale destacar ainda que as recentes ondas de calor que atingem as nações ao norte do globo também têm causado mortes na população idosa.

Estados Unidos

Ao contrário de outras nações, em que a expectativa de vida se concentrou em idosos, nos Estados Unidos, o estudo analisou o a população mais jovem (entre 20 e 30 anos), que também apresentou um declínio preocupante. Segundo os autores, a crise dos opiáceos – classe de medicamentos que pode causar dependência -, está entre os grandes responsáveis pela diminuição da expectativa de vida no país, uma vez que provocou 115 mortes por dia em decorrência de overdose em 2016.

Outro estudo recente publicado no jornal científico BMJ mostra que as taxas de mortalidade por doenças que atingem pulmão, coração e outras partes do corpo também aumentaram significativamente. Para Jasilionis, a desigualdade social, a pobreza e o declínio da qualidade do serviços de saúde podem estar entre as causas para o desempenho negativo dos Estados Unidos. Fatores sociais também podem ter influenciado na redução da expectativa de vida no Reino Unido.

Piores resultados

Em 2016, os países com menor expectativa de vida entre as mulheres foram EUA (81,40), Reino Unido (82,72) e Holanda (83,16). Já para os homens, os piores resultados foram registrados nos EUA (76,40), Portugal (78,11) e Finlândia (78,43). Diante da queda dupla, os Estados Unidos têm agora os níveis mais baixos entre os países desenvolvidos de alta renda.

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A maioria dos países com declínios gerais entre 2014 e 2015 mostrou sinais de recuperação entre 2015 e 2016. Segundo a pesquisa, os países com maior expectativa de vida na população feminina atualmente são Japão (87,17), Espanha (85,84) e França (85,50); entre os homens, Suíça (81,63), Austrália (81,49) e Noruega ( 80,61) apresentaram melhores resultados. Apesar disso, Estados Unidos e Reino Unido mantiveram a tendência de declínio: nos primeiro, homens apresentaram 76,4 anos, e mulheres, 81,4 anos. Já no segundo, os números ficaram em 79,04 (homem) e 82,72 anos (mulher).

No Brasil, segundo dados divulgados em 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2015 e 2016, a expectativa média de vida do brasileiros era de 75,8 anos. Em consonância com os dados de outros países, as mulheres vivem mais (79,4 anos) se comparadas à população masculina (72,9). Ainda assim, o número permanece inferior ao de países desenvolvidos que sofreram declínio. 

Sinal de alerta

De acordo com os pesquisadores, na ausência de guerras, novas epidemias ou reformas econômicas substanciais, a estagnação e/ou queda nas taxas de expectativa de vida demandam atenção. Resultados assim podem indicar um declínio no perfil de saúde da população, que pode ter sido impulsionado por tendências socioeconômicas adversas, deterioração na provisão ou qualidade dos serviços de saúde, ou ainda piora dos fatores comportamentais.

Apesar de muitos países terem conseguido se recuperar, a ameaça de novas doenças e o crescimento da resistência aos antibióticos por superbactérias podem representar um desafio no futuro. “É muito cedo para dizer que a queda na expectativa de vida não vai acontecer de novo. Isso dependerá, principalmente, se esses países vão estar mais preparados para lidar com esses problemas. Há mais ameaças inesperadas à saúde que exigirão respostas mais rápidas e mais desenvolvimento tecnológico”, concluiu Jasilionis. 

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