Ao menos dois homens contraíram raiva no Brasil neste ano: um após o contato com um bezerro infectado em Mantena (MG) e outro após ser mordido por um sagui em Cariús (CE). Ambos morreram. Os números são tímidos comparados à realidade mundial – 59 mil pessoas por ano sucumbem pela doença.
Contudo, por mais rara que seja a infecção, especialistas brasileiros estão preocupados com o cenário atual por ele representar um aumento desde 2022, com cinco novos casos entre humanos desde então. Afinal, o que pode estar causando a ressurgência da raiva no país?
A doença é transmitida a partir do contato de seres humanos com animais infectados pelo vírus Lyssavirus, da família Rabhdoviridae. Isso pode acontecer por mordidas, arranhões ou contato com a saliva do animal contaminado. No organismo, o patógeno começa a se multiplicar, o que pode acontecer em ritmo mais lento ou rápido. O perigo é quando a doença chega às terminações nervosas.
O período de incubação varia de um mês a dois anos após a exposição. Nessa janela de tempo, o vírus pode atacar o cérebro e levar à morte. De 2010 a 2 de agosto de 2022, foram 45 ocorrências no Brasil.
“Percebe-se que a população não sabe identificar quando há o risco de infecção por raiva. Portanto, não procura assistência. A doença não tem cura, mas pode ser prevenida mesmo após os acidentes com animais se a pessoa receber cuidados imediatos”, explica Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e coordenadora da Campanha Raiva Mata. “Não adianta esperar os sintomas aparecerem. Aí não há mais o que fazer.”
Nas regiões urbanas, a raiva humana é mais comumente transmitida por morcegos e — eventualmente — cães e gatos. Em ambientes rurais e silvestres, cavalos e raposas também levantam o alerta.
Dos 45 casos nacionais, segundo os dados mais recentes do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, 24 foram causados por morcegos. “A maioria encontra um morcego morto no seu quintal e descarta o corpo sem proteção e num lugar inapropriado. Mesmo morto, ainda é um vetor para a doença. Não é só aquele que morde que causa a raiva, todos podem ser infectados”, avisa Ballalai.
Sintomas e evolução
Em cerca de 80% dos casos, os sintomas são semelhantes:
- Mal-estar geral;
- Aumento da temperatura;
- Anorexia;
- Dor de cabeça;
- Náuseas;
- Dor de garganta;
- Entorpecimento;
- Irritabilidade;
- Sensação de angústia.
Quando o quadro clínico evolui, as pessoas podem apresentar:
- Febre;
- Delírios;
- Espasmos musculares involuntários;
- Convulsões.
Se não prevenida a tempo, a raiva é uma doença fatal em quase 100% dos casos, mesmo com assistência médica
Como evitar
A prevenção se dá, principalmente, pela vacinação anual de cães, gatos e animais de pasto. Métodos envolvendo o controle populacional de bichos errantes, como morcegos, e o uso da vacina em pessoas suscetíveis (biólogos, veterinários, camponeses) são outras formas de conter a doença.
É imprescindível que, após um caso suspeito, o indivíduo lave, apenas com água e sabão, a região que entrou em contato com o animal e procure assistência médica imediata. No centro de saúde, o profissional avaliará quais serão os próximos passos, que pode envolver doses da imunoglobulina humana antirrábica, algo que não deve ser interrompido, soro heterólogo ou a vacina.
Porém, o soro antirrábico tem registrado baixos estoques no país e levado estados a reforçar o alerta sobre o uso racional do produto. Segundo o Ministério da Saúde, o problema ocorre desde 2015, e voltou a registrar alerta na pandemia.
Em 2022, a Secretaria de Saúde de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, afirmou ter seu estoque zerado após uma intercorrência na produção da solução provocar a suspensão da fabricação pela Fundação Butantã, único fornecedor do produto.
Para obter mais informações, acesse o site da campanha da SBIm.