Ricardo Kores, o infecto pop que viralizou com vídeos sobre sexo seguro
Fenômeno no TikTok, médico mineiro usa o humor para falar de temas sérios e alertar os mais jovens sobre as infecções sexualmente transmissíveis
“Fogo na bruschetta?”, “Cuidado com ‘leite’ no olho”… Frases descontraídas, com trocadilhos e brincadeiras, mas sem perder a correção científica, viraram a marca registrada do infectologista Ricardo Kores. Médico que mora e atua em Uberlândia (MG), ele cativa o Brasil inteiro com vídeos nas redes sociais (destaque para o TikTok) explicando a importância da higiene genital e do sexo seguro, entre outros assuntos.
Ciente de que há muitos mitos, tabus e erros de informação sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) disseminados por aí, o especialista embarcou numa jornada de esclarecimento com toques de humor por meio de vídeos publicados desde agosto de 2022.
Hoje com cerca de meio milhão de seguidores, Kores compartilha com VEJA os bastidores do seu trabalho de conscientização, com várias postagens obtendo mais de 1 milhão de visualizações.
VEJA: Como surgiu a ideia de criar vídeos informativos sobre temas como as ISTs?
Ricardo Kores: Nos últimos dez anos, de acordo com os boletins epidemiológicos, houve um aumento crítico de casos de ISTs, principalmente na faixa de 20 aos 29 anos. Embora existam campanhas e até vacinas para algumas dessas doenças, os casos só crescem. Logo, a informação não está chegando da maneira que devia. A partir disso, tracei uma estratégia de trazer outro tipo de comunicação, focando em trazer informações verídicas mas sem tabus para os jovens. Já fiz palestras em escolas, e posso garantir que há poucas alternativas além de falar a língua deles.
De que forma cria as analogias e brincadeiras que fazem sucesso nas redes sociais?
Parto da seguinte pergunta: já que não podemos falar algo vulgar, chulo ou sensacionalista, como iremos prender a atenção dos jovens? Com ‘mediquês’ e termos científicos que não é. Não adianta atingir somente uma parcela, todo mundo está exposto às ISTs. Assim, com a ajuda de um colaborador publicitário, criamos vídeos lúdicos, que servem de potencializador para o aprendizado. Um comenta com o outro: ‘olha esse médico fazendo essa brincadeira’, e, desse modo, a informação passa adiante.
Prefere ser sério ou engraçado diante das câmeras?
É através do cômico que me expresso, mas o que falo é sério. Sempre busco ter respeito pelas doenças, passar a mensagem de forma tranquila e evitar criar qualquer tipo de sorofobia, preconceito que está presente no cotidiano da maioria das pessoas com HIV.
Mesmo tentando fugir do vulgar, ainda o acusam disso. Como lidar?
Houve bastante crítica. Eu respeito a opinião de quem é contra, claro. Mas o que eu notei com o tempo é que quem faz essas críticas não costuma estar preparado para o diálogo. Seja sobre ISTs, seja sobre a abordagem desse tema em um ambiente favorável à educação. Isso faz com que as pessoas se fechem, inclusive a estratégias melhores, mais atualizadas. Enquanto isso, os casos das doenças continuam subindo.
Acredita que faltam políticas públicas para as ISTs?
Sim. É preciso compreender melhor o jovem e torná-lo protagonista da sua própria estratégia de prevenção. Como fazer isso? Ouvindo e valorizando-os. Não são somente ‘aborrecentes’, são indivíduos cada vez mais antenados, com dúvidas que devem ser respeitadas, e não estão sendo.
Como tem sido o contato direto com esse público?
Os jovens são gratos, principalmente pela forma com que a informação chega até eles. Aqui em Uberlândia, rola até paparicação. Mas sempre pautada pelo respeito. Nunca riram ou zombaram. Sou reconhecido pelo trabalho, algo que recebo com muito entusiasmo. Agora, vejo meu público replicando conhecimento e se livrando de estigmas. É a única maneira de se livrar também das ISTs, e vejo que estou no caminho certo.