Um artigo publicado na revista científica Journal of Immunology descreveu um estudo que descobriu que uma cepa modificada geneticamente do Bacilo Calmette-Guérin (BCG), utilizado na vacina para a tuberculose, aplicada em bebês recém-nascidos ainda na maternidade, poderá ser adaptada e produzida para combater o SARS-Cov-2, que provoca a Covid-19.
Segundo a pesquisa, a bactéria produziu uma proteína quimérica com dois antígenos do coronavírus e conseguiu produzir anticorpos nos camundongos expostos ao vírus. Uma boa notícia já que esse imunizante tem custo baixo e pode facilitar a vacinação contra a Covid-19 nos países de baixa renda – apenas 16% da população dessas nações foi vacinada até 2022, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Os resultados foram animadores”, disse Sérgio Costa Oliveira, professor do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, que coordenou o estudo em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Instituto Butantan, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ao Jornal da USP. “Não detectamos nenhum sinal do vírus no pulmão dos animais vacinados com a BCG recombinante, com o ensaio de formação de vírus em placas”, completou o pesquisador.
Durante o estudo, os cientistas perceberam que as moléculas estranhas ao corpo dos camundongos foram capazes de ativar a produção de anticorpos contra o coronavírus e, assim, bloquear a replicação viral. “O BCG estimula o sistema imune inato, preparando o organismo para se defender de outros patógenos, além da própria tuberculose”, explicou o especialista.
Para modificar a vacina, foi introduzida uma sequência gênica no BCG, contendo o gene da proteína S, localizada na parte externa do coronavírus – técnica usada em 90% das vacinas contra a Covid-19. Assim, a entrada na célula foi facilitada, com o bacilo produzindo uma proteína composta com os dois antígenos nos roedores.
Após 30 dias, o BCG ainda recebeu um reforço de adjuvante. “Foi fundamental para aumentar a imunidade dos roedores, que ficaram mais protegidos do que aqueles animais que receberam apenas o BCG, ou apenas a proteína com o adjuvante”, conta Oliveira.
Os pesquisadores comprovaram ainda que a vacina BCG, criada em 1921, a partir do bacilo Mycobacterium bovis, isolado de bovinos, contribuiu para aumentar a atividade dos linfócitos T – células de defesa do organismo – e dos macrófagos, que ajudam a eliminar o vírus da Covid-19.
De acordo com um levantamento de 2013, publicado na revista Maedica – a Journal of Clinical Medicine, a BCG é um dos imunizantes mais seguros que existe, com poucos efeitos colaterais e já aplicados em 4 bilhões de pessoas no mundo.