Sociedade de Pediatria recomenda nova vacina da dengue para crianças
Entidade ressalta segurança e eficácia do novo imunizante que pode ser aplicado em qualquer pessoa de 4 a 60 anos, em 2 doses com intervalo de 3 meses
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda a nova vacina QDENGA® contra a dengue como escolha preferencial para imunizar crianças e adolescentes. Aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde março, o imunizante é produzido pelo laboratório japonês Takeda Pharma e destinada a indivíduos de quatro a 60 anos de idade.
“Além da eficácia de 80% para a dengue, e 90% para as formas graves, a QDENGA® supera as limitações da vacina anterior, a Dengvaxia©, já que elimina dois grandes obstáculos: o esquema vacinal é mais rápido, com a aplicação de duas doses em um intervalo de três meses, e não exige testagem prévia pois pode ser aplicada em qualquer indivíduo, diferente da anterior que só serve para quem já teve dengue”, explica Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da SBP.
Segundo a publicação da entidade, a imunização é formulada com vírus vivo atenuado para a prevenção da dengue causada por qualquer um dos quatro sorotipos existentes (1, 2, 3 e 4) e teve aprovação baseada em diversos estudos clínicos de fases 1, 2 e 3, envolvendo mais de 28 mil crianças e adultos em 13 países.
“No Brasil, está disponível apenas em clínicas privadas, mas a SBP sugere o uso da QDENGA® pela eficácia e comodidade posológica e recomenda que o Ministério da Saúde discuta o mais breve possível sua introdução no programa público de vacinação para impactar a população e o problema de saúde pública, e não apenas os indivíduos que podem pagar”, diz o infectologista, que também é, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
A vacina, porém, ainda não tem data para ser disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS) e nem incorporada ao Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde. De acordo com membros da pasta, o imunizante ainda tem que passar pela análise de eficácia, efetividade, segurança e impacto econômico da nova tecnologia com base nas melhores evidências científicas disponíveis pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) e o Ministério quer dar prioridade à produção nacional.
Só que a versão nacional da vacina da dengue, a Butantan-DV, que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan desde 2009, também não tem prazo de liberação e utilização, já que ainda não teve a pesquisa concluída. Nos ensaios clínicos de fase 3, esse imunizante mostrou uma eficácia de 79,6% para evitar a doença.
O acompanhamento desse iminizante completa cinco anos em 2024, ou seja, só poderá ser submetido à aprovação da Anvisa no ano que vem, e se aprovada, talvez seja disponibilizada em 2025. Ou seja, quem quiser ser imunizado contra a doença transmitida pelo mosquito Aedes Aegypt, vai ter que desembolsar entre R$ 300 e R$ 500 reais por injeção, segundo tabela da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
A SBP ressaltou ainda que a imunização é contraindicada somente a pacientes com hipersensibilidade às substâncias contidas na formulação, a mulheres grávidas ou em período de amamentação e para indivíduos com imunodeficiência congênita ou adquirida – incluindo aqueles em uso de corticoides ou outros medicamentos em doses imunodepressoras. “Essa vacina é uma ferramenta importantíssima e necessária no país pois é fato que a dengue é um enorme problema de saúde pública”, finaliza Kfouri.
Situação preocupante
Em 2022, o Brasil atingiu um número recorde de mortes por dengue: 1.016 registros de óbitos. Nos primeiros meses deste ano, as taxas também foram bem altas no país, com 635 mortes confirmadas até junho, período em que mais de 1,3 milhão de casos foram registrados segundo o último boletim do Centro de Operações de Emergências de Arboviroses (COE Arboviroses). Um recorde desde a década de 1980.
Qualquer pessoa, de todas as faixas etárias são passíveis à doença, sendo as mais velhas e com doenças crônicas, como as hipertensas e diabéticas, as que possuem maior risco de desenvolvimento de casos graves que podem levar à morte. A forma mais grave é a dengue hemorrágica, mais comum quando se contrai o vírus pela segunda vez.
Entre os principais sintomas estão febre alta, dor no corpo e articulações, mal-estar, dor de cabeça e atrás dos olhos e manchas vermelhas no corpo. A forma mais eficaz de se evitar a doença é não deixar água parada, onde o mosquito se reproduz. “Por isso é tão importante a vacinação que não só evita o adoecimento individual, como ajuda no controle de uma doença que impacta de uma maneira extremamente significativa todo o nosso serviço de saúde”, finaliza o médico.