Desde que o tratamento com semaglutida, princípio ativo dos medicamentos Ozempic (para diabetes tipo 2) e Wegovy (para obesidade), demonstrou potencial não só para pacientes com essas condições, mas para o controle de outros quadros, como o risco cardiovascular, estudos para verificar outras possibilidades de indicação foram iniciados. Um das linhas tem como foco o combate ao tabagismo, responsável por doenças crônicas e mortes ao redor do mundo. Após ensaios que indicaram a diminuição do desejo de fumar em voluntários, um novo estudo demonstrou que fumantes com diabetes tipo 2 e se tratavam com a substância tiveram menos probabilidade de receber um diagnóstico de transtorno do uso de tabaco (TUD), bem como prescrição de remédios ou aconselhamento para deixar o cigarro.
Antes que qualquer pessoa pense em usar o Ozempic para parar de fumar, os pesquisadores que realizaram o ensaio clínico, publicado no periódico Annals of Internal Medicine, deixam claro que nenhum uso fora do previsto em bula deve ser adotado. Ou seja, semaglutida não é indicada para tratar a dependência ao tabaco.
No estudo, pesquisadores do National Institute on Drug Abuse, National Institutes of Health e Case Western Reserve University School of Medicine, nos Estados Unidos, compararam 222.942 novos usuários de medicamentos antidiabéticos, dos quais 5.967 eram tratados com semaglutida.
Os participantes tinham três perfis: pacientes com diabetes tipo 2 e TUD, pacientes com diabetes tipo 2 e TUD que tinham diagnóstico de obesidade, e aqueles que não tinham diagnóstico de obesidade
“A semaglutida foi associada a menores riscos para medidas de cuidados de saúde relacionadas a transtorno do uso de tabaco em pacientes com diabetes tipo 2 e transtorno do uso de tabaco em comparação com outros medicamentos antidiabéticos, incluindo outros GLP-1RAs (agonista do receptor de peptídeo semelhante ao glucagon, a classe da medicação)“, disseram os cientistas.
O grupo observou que as diferenças de resultados entre os voluntários apareceram após 30 dias da prescrição do fármaco e que os resultados foram semelhantes entre participantes diagnosticados com obesidade e os que não viviam com a condição.
O remédio faz parte de uma nova geração de medicamentos para o tratamento de diabetes tipo 2 que atuam em receptores de hormônios produzidos pelos intestinos, responsáveis pela sensação de saciedade, e demonstraram potencial para levar à perda de peso em pacientes obesos. As drogas agem ainda no metabolismo da glicose e no controle energético no corpo.
Futuro remédio contra tabagismo?
Embora os achados serem animadores, mais estudos precisam ser realizados para validar a hipótese. Os autores afirmam que as limitações do estudo, como dados ausentes sobre comportamento atual de tabagismo e de adesão à medicação, impedem conclusões mais robustas sobre a possibilidade de adoção da droga como uma conduta anti-tabaco.
Mesmo assim, abre caminhos para o estabelecimento de novas abordagens a um hábito deletério para a saúde e ligado a um amplo arsenal de doenças, como diferentes tipos de câncer (pulmão, laringe, cavidade oral), problemas cardiovasculares, impotência sexual e infertilidade.