O fungo Candida auris, descoberto recentemente, tem se espalhado pelo mundo e preocupa especialistas. Segundo informações do jornal americano The New York Times, ele infecta pessoas com o sistema imunológico enfraquecido e pacientes internados em hospitais, se instala rapidamente nos lugares mais inusitados e, para piorar, resiste aos principais tratamentos antifúngicos.
Nos últimos anos, casos foram identificados em mais de 30 países, em todos os continentes. Alguns deles espantam. Na Venezuela, por exemplo, ele atingiu uma UTI neonatal. Na Espanha, varreu um um hospital e nos Estados Unidos, onde foi detectado recentemente, entrou na lista de “ameaças urgentes” após um paciente morrer no hospital Mount Sinai.
Ainda não há casos relatados no Brasil, mas como o país não conta com um sistema de vigilância de fungos, existe a possibilidade de ele estar circulando sem ninguém saber. Após a preocupação generalizada dessa ausência de fiscalização, o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira, anunciou na quarta-feira que um sistema de vigilância contra fungos está sendo criado pelo Ministério da Saúde. Segundo ele, a questão tem sido discutida nacionalmente há cerca de três anos.
Sistema de vigilância de fungos no Brasil
O modelo não será específico para o Candida auris, contemplando fungos de maneira ampla. “É fato que não temos um sistema de vigilância como temos para a dengue, mas o monitoramento é feito a partir da internação e dos casos graves”, explicou o secretário. De acordo com ele, existe um Plano Nacional para a Prevenção e o Controle da Resistência aos antimicrobianos e o sistema de vigilância será alinhado com essa iniciativa. O modelo, ainda segundo Oliveira, possivelmente será sentinela, ou seja, não vai contemplar todas as unidades de Saúde. Atualmente, o ministério discute a questão com a sociedade científica.
O secretário afirma que o sistema de vigilância não pode ser especificamente para Candida auris, porque não é somente este fungo que representa um risco para o País, mas a resistência aos antimicrobianos de maneira geral. “Estamos trabalhando isso como um conjunto, não somente para uma doença ou um agente específico, porque fica muito complexo fazer a vigilância de um agente só”, explicou. Conforme ele, isso não corre somente com fungos. Cita o exemplo da gonorreia, uma preocupação mundial, porque está se tornando intratável. “Vamos fazer um sistema só para a gonorreia? Não, se faz para todas as infecções sexualmente transmissíveis”, argumentou.
Segundo Oliveira, a Candida auris vem sendo discutida nos últimos dias, mas isso não quer dizer que sua infecção seja mais alarmante que as outras.
Fungo por todas as partes
Nem a morte do paciente do Hospital Mount Sinai conseguiu conter a propagação do fungo. Análises mostraram que ele estava presente por todo o quarto. Mesmo após uma limpeza especial, foi necessário arrancar placas do teto e pedaços do piso para eliminar completamente o parasita do local.
“Tudo mostrava sinais da presença – as paredes, a cama, as portas, cortinas, telefones, a pia, o quadro branco, os suportes de soro, a bomba. […] O colchão, as grades da cama, os buracos para encaixe, as persianas, o teto – tudo que existia no quarto mostrava sinais de presença do germe.”, disse Scott Lorin, presidente do hospital Mount Sinai ao The New York Times.
Candida auris
O Candida auris foi identificado pela primeira vez em 2009, mas dados retrospectivos mostram infecções em 1996, na Coreia do Sul.
O fungo pode causar infecções da corrente sanguínea, originárias de machucados e de ouvido. Os sintomas são comuns e incluem febre, dores e fadiga. Mas podem levar a morte se não tratada, principalmente se o paciente já estiver com outros problemas de saúde.
O diagnóstico é feito a partir de culturas de sangue e outros fluidos, mas ela pode ser confundida com outros tipos de Candida.
O tratamento é a principal preocupação das autoridades. Embora a maioria dos casos possa ser tratada com medicamentos chamados echinocandins, algumas já adquiriram resistência a muitos remédios antifúngicos. Nesses casos, é necessário aumentar a dose e usar várias medicações diferentes.
Em ambientes de saúde, o fungo se espalha de pessoa para pessoa ou por equipamentos e superfícies contaminadas. Sobre a letalidade, ainda não se sabe se ela é mais letal do que outros tipos de Candida, já que a maioria dos pacientes apresenta condições graves de saúde.
Germes resistentes
A C. auris é mais um germe resistente a medicamentos que está se espalhando pelo mundo e preocupando autoridades. esses micro-organismos – em especia bactérias e fungos – que resistem aos principais medicamentos disponíveis são chamados de “superpragas”. Um exemplo comum são as superbactérias, que assustam por serem resistentes a maioria dos antibióticos.
Líderes mundiais de saúde, incluindo a OMS, vem apelando para a contenção do uso de antibióticos e antifúngicos, justamente para evitar o aumento da quantidade desses germes, que, em breve, podem se tornar uma grave ameaça, principalmente a pessoas com o sistema imunológico comprometido.
(Com Estadão Conteúdo)