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“Tenho pena da morte”, diz cirurgião plástico José Badim, na ativa aos 94 anos

Ele não nega novos desafios

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 ago 2025, 09h26 - Publicado em 16 ago 2025, 08h00

Ser médico foi algo que veio naturalmente na minha vida. Sempre frequentei colégios públicos e era muito estudioso. Passei na Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, e me formei em 1956. Resolvi procurar uma residência em cirurgia plástica, porque estava começando essa moda no Brasil. Fui então para os Estados Unidos, onde morei por seis anos. Lá, eu trabalhava 36 horas e descansava doze. Embarquei já noivo, casei no primeiro ano por procuração e minha mulher foi se encontrar comigo. Era muito puxado. Mesmo assim, fui galgando posições a ponto de ser assistente de professor na Universidade de Nova York. Recebi ofertas para ficar, mas voltei para o Brasil em 1963 por causa da minha família. E do frio.

Voltei e me arrisquei a fazer tudo o que aparecia. O que os outros médicos não faziam, eu tinha coragem de fazer, porque sempre investi no novo e no difícil. Até que, em 1968, apareceu um funcionário do Banco do Brasil que trabalhava com reimpressão e teve a mão amputada. A guilhotina pegou no punho. Eu era chefe de serviço no Hospital Souza Aguiar e fiz o primeiro reimplante de mão do país. Lia a respeito desse procedimento e sabia o que fazer.

Depois fiz um pioneiro reimplante de couro cabeludo. Lembro que era uma menina. Ela entrou em uma máquina que puxou o cabelo dela e arrancou. Fez o escalpo total, levando até uma orelha. E a gente conseguiu repor. Alguns médicos achavam que eu estava me metendo na área deles. Mas o que sei fazer, faço. O que não sei, vou procurar saber. Logo depois, em 1972, houve a explosão na Refinaria de Duque de Caxias, a Reduc, e recebemos mais de cinquenta pacientes. A primeira coisa a fazer nesses casos é salvar a vida. A queimadura extensa, quando não mata, aleija. Depois, ficam as cicatrizes, que repuxam e deformam. Eu ia tratando dessas deformações. Gostava do desafio. Apareciam os pacientes com problemas sérios e eu entrava no caso.

Fiz de tudo, ou quase tudo: reconstrução de laringe e esôfago, correção de defeitos congênitos em crianças. Buscava resolver ou amenizar a situação. E vivi momentos de gratidão que me deixaram feliz, a ponto de ser difícil, agora, definir um capítulo especial nessa trajetória. Sinto orgulho, porque a cirurgia plástica brasileira é a melhor do mundo, embora possa haver problemas, sim, algum descuido profissional. A gente recebe com frequência pessoas com sequelas de tratamentos superficiais, sem o devido cuidado. Faço toda a cirurgia plástica estética, cânceres de pele, tumores de cabeça e pescoço, problemas da face de um modo geral. Continuo trabalhando porque estou bem, não tenho tremor e essa ocupação me mantém vivo e consciente, com compromisso e com a cabeça funcionando. O paciente me procura, por que não atender? Já fiz uma cirurgia de tendão na mão com meu filho, que também é cirurgião plástico, e meu neto, que é ortopedista. Foi um prazer extraordinário para mim, não tem como definir. Foi uma sensação fabulosa.

Eu me cuido, faço exercícios duas a três vezes por semana. O fuso horário do médico é o do padeiro e o do jornaleiro. Acordo às 5 da manhã todos os dias, me apronto e venho para o trabalho (Hospital Badim, no Rio de Janeiro). Faço meus atendimentos, vejo como está a situação e, lá pelas 14 horas, vou para casa. Faço agora meio expediente, porque tem muita coisa para fazer em casa, né? Vou ao mercado ou à feira comprar frutas, ocasionalmente saio para almoçar com meus filhos e com a minha mulher. Somos casados há 67 anos. Veja bem, eu não pedi para viver tanto. Aconteceu e estou aproveitando porque não tenho medo da morte, tenho pena. Eu tenho pena da morte, porque está tão bom para mim que não quero morrer.

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José Badim em depoimento a Paula Felix

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2025, edição nº 2957

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