Terceiro estado com o maior número de infectados pelo novo coronavírus no país, atrás de São Paulo e Ceará, o Rio de Janeiro conseguiu a proeza de reduzir os óbitos e novos casos em meio à flexibilização do isolamento social. O mês de junho registrou o pico da doença no Rio: no dia 19 foram contabilizados 6.060 novos casos e no dia 3 o número de mortos foi a 324. Na segunda semana de junho, no entanto, houve redução de 36,2% dos índices em comparação à semana anterior. O mesmo ocorreu na última semana do mês, que registrou 33% de queda em relação à terceira semana de junho. Nesta segunda, 13, o boletim da secretaria estadual de Saúde reportou 2.360 novos casos e 59 óbitos nas últimas 24 horas. No domingo, 12, o estado enfrentou uma falha no sistema do SUS, o que produziu dados defasados - foram computados apenas nove novos casos e nove mortes.
Segundo os especialistas, o fenômeno tem relação com a experiência dos médicos no tratamento da Covid-19, o crescente índice de imunização entre a população fluminense e o uso de máscaras em larga escala. “A situação está mais estável, o que pode dar uma falsa sensação de segurança. Saberemos se o afrouxamento das medidas causará novo aumento de casos em até quatro semanas após seu início, ou seja, a partir de agosto. É preciso ter em mente que o vírus continua circulando”, explica o médico infectologista André Siqueira, do Instituto Nacional de Infectologia .
A preocupação de Siqueira e de outras autoridades em saúde pública é que ocorra a repetição de cenas como as observadas no último dia 2, quando os estabelecimentos da cidade foram reabertos e receberam centenas de clientes. Na ocasião, as medidas que figuram na cartilha “novo normal” foram ignoradas e apenas os garçons usaram o equipamento de proteção individual. A situação, que gerou críticas nas redes sociais por promover pontos de aglomeração, é recorrente.
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Clique e AssinePara o pneumologista Elie Fiss, pesquisador do Hospital Alemão Oswaldo Cruz , houve uma evolução na forma de atendimento e tratamento de pacientes com teste positivo para Covid-19. “Assim que a pandemia desembarcou no país a orientação era entubar o paciente assim que seu quadro de saúde se agravasse mas, com o passar do tempo, identificamos formas menos invasivas de estabilizar o doente. Tudo isso contribuiu para a reduzir o risco de óbito”, afirma. A falta de informação também colaborava para a desproteção das pessoas, que não sabiam a importância do distanciamento social e das medidas de higienização que diminuem a chance de contágio.
Outro protocolo revisitado nesse intervalo de tempo foi o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. “Ao contrário de hoje, que sabemos os contras dessa medicação, no início da pandemia a ideia era de que a cloroquina traria vantagens ao tratamento. Muitos médicos, inclusive eu e minha equipe, deixamos de adotá-la”, conclui Fiss.
Ao todo, 132.044 casos foram confirmados e 11.474 pessoas morreram no estado desde o início da pandemia. Ainda há 1.082 óbitos em investigação. Entre os confirmados, 111.189 pacientes se recuperaram da doença.