Um Viagra natural?
O consumo de uma raiz de origem peruana, a maca, é moda entre homens e mulheres em busca do aumento do desejo sexual
Uma onda de hashtags se espalhou pelas redes sociais para louvar os supostos efeitos terapêuticos de uma raiz indígena de origem peruana com 2 000 anos de história: #macaperuana, #viagrainca, #macapowder, #macaroot #peruvianviagra. O fenômeno brotou nos Estados Unidos e na Europa e já está desembarcando no Brasil. Ingerida em pó ou em cápsula, com sabor terroso, a planta tem sido procurada sobretudo por quem busca melhorar a disposição e o desempenho sexual.
Segundo os consumidores, os efeitos são reais — e as pesquisas confirmam. Um estudo, divulgado no periódico Andrologia, concluiu que, para homens em idade fértil, a ingestão de doses entre 1,5 grama e 3 gramas de maca durante doze semanas consecutivas fez aumentar a libido, em comparação ao grupo que tomou um placebo. Há benefícios também para mulheres. Um trabalho conduzido pela Universidade Charles Sturt, na Austrália, mostrou que a raiz ameniza os sintomas da menopausa. Durante essa fase, ocorre redução drástica dos níveis de estrogênio, o hormônio feminino por excelência. Aparentemente, a maca imita a ação do estrogênio. Os resultados foram vistos com o consumo de 2 gramas do ingrediente, equivalentes a meia colher de chá diária.
O aumento do desejo sexual, portanto, é o efeito mais procurado por quem compra a maca peruana. No Japão, a raiz é vendida em farmácias e quiosques em embalagens cujo rótulo faz alusão à ereção masculina. Diz Norvan Martino Leite, especialista em clínica médica e fitoterapia: “A maca atua de forma natural e eficaz em sistemas complexos do organismo, em princípio sem efeitos colaterais”.
Convém, como sempre, ir com cautela. Ainda faltam levantamentos mais conclusivos. A maca se encaixa na categoria de suplemento ou de alimento — e não de remédio. Ou seja, não pode ser empregada como tratamento para disfunções sexuais. Diz Paulo Henrique Março, professor no programa de pós-graduação de tecnologia em alimentos na Universidade Tecnológica Federal do Paraná: “Como qualquer fitoterápico sem comprovação cabal da ciência, ela deve ser usada para melhorar o que já é bom. E não em um corpo doente”. Nenhuma investigação científica mostrou danos colaterais relevantes.
As qualidades do produto atreladas ao desejo e à disposição estão associadas a um pacote de compostos. Há os que aumentam a resistência. Outros aceleram a recuperação muscular. O sucesso levou à promulgação de uma lei exigindo que a planta seja cultivada apenas no Peru. Isso porque as propriedades estariam associadas ao clima, à luminosidade intensa e à altitude de 4 000 metros dos Andes.
O uso de plantas tem conquistado espaço na medicina. Os hospitais de primeira linha no Brasil investem em estudos sobre as propriedades fitoterápicas. A Universidade Harvard, uma das mais conceituadas no mundo, criou um departamento dedicado a pesquisas das terapias complementares. Diz o médico Edson Borges, diretor científico do Fertility Medical Group: “Essa busca é calcada sobretudo no fato de termos atingido os limites nos tratamentos convencionais”.
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2018, edição nº 2608