Professores da Unifesp divulgam carta em repúdio a médico negacionista
Segundo o documento, Roberto Zeballos espalha desinformação para "reunir seguidores em seus púlpitos digitais e sucesso pessoal que alimenta o caos"
Nesta terça-feira, 18, os professores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram uma carta aberta contra as declarações feitas pelo médico Roberto Zeballos contra as vacinas da Covid-19. Segundo o documento, não é de hoje que Zeballos critica a vacinação e espalha desinformação sem qualquer base científica em entrevistas e audiências da Câmara Federal ou do Ministério da Saúde. “Notoriamente, tem utilizado a sua graduação em Medicina e se autodeclarando especialista para fazer campanha contra as vacinas, prestando um desserviço à saúde”, escreveram os médicos da Unifesp.
A carta também critica a forma desrespeitosa como o médico se refere às sociedades científicas e médicas que defendem a imunização contra o coronavírus. “Utiliza informações distorcidas e ataca os especialistas em vacina chamando-os de ‘analfabetos’ e insinuando que existem interesses escusos de todos os que falam em favor das vacinas.”
O documento ressalta ainda que dados inequívocos atestam a queda drástica no número de casos e de óbitos após a vacinação ter ganho força no Brasil, algo que não é levado em consideração por Zeballos, que “continua fazendo alegações falsas e sem mostrar evidências científicas”. “Embora tenha o grau de médico e doutorado, parece que pouco aprendeu sobre metodologia científica e aplicações práticas de epidemiologia clínica. Situação que gera, para dizer o mínimo, falta de credibilidade e de integridade. Apresentar experiência clínica individual como única prova da veracidade de suas hipóteses é desconhecer o mais simples pressuposto de metodologia científica. Ninguém julga um tratamento com base em experiência individual.”
Os autores da carta também repudiam as atitudes negacionistas de Zeballos e a menção de seu vínculo passado com a Escola Paulista de Medicina/Unifesp para credenciar a defesa de hipóteses não comprovadas pela metodologia e que não traduzem as diretrizes da comunidade científica, mas apenas suas opiniões pessoais. “Para ele e outros negacionistas, a ciência está em segundo plano.”
Por fim, os autores da carta afirmam que o interesse do médico, assim como de outros negacionistas é “reunir seguidores em seus púlpitos digitais e construir uma narrativa para sucesso pessoal que alimenta o caos” e o acusam de usar o diploma de médico da instituição para “benefícios individuais espúrios, de duvidosa postura moral.” “Por este motivo, nos vemos no dever de denunciar a desinformação veiculada por todos aqueles que protagonizam a defesa de medidas desastrosas para a saúde coletiva, a exemplo do movimento anti-vacinas e do uso de medicamentos para terapêutica precoce Covid-19, sem a validação científica e clínica para sua prescrição”, diz o documento, que acrescenta: “Na busca pela fama e benefícios individuais, estes profissionais do caos preferem se dirigir diretamente ao público geral, único caminho que oferece algum acolhimento às suas teses infundadas”.