A correria em busca da vacina contra a febre amarela fez as doses do imunizante sumir das clínicas particulares da capital nesta semana. Apesar de a vacina ser aplicada de graça nos postos de saúde, muitas famílias buscaram a rede particular para evitar filas – há relatos de espera de mais de quatro horas na rede pública. Na rede privada, as doses estavam sendo comercializadas em valores que variam de 180 reais a 260 reais.
VEJA ligou nesta sexta-feira 12 para vinte clínicas da cidade e encontrou a vacina disponível em apenas uma delas (Vacinar) – mas com estoque limitado e perto do fim. O local está entregando senhas para quem procura a vacina e antes do meio-dia já não havia vagas disponíveis para hoje. O atendente não soube informar quantas doses a clínica ainda possui em estoque e orientou os interessados a chegarem bem cedo.
Outras clínicas estão fazendo lista de espera para quem não consegue encontrar mais as doses. Na clínica Pediatria e Imunização Klabin, por exemplo, na Zona Sul da capital, as vacinas acabaram ontem e a lista de espera já conta com 350 pessoas. Cada dose estava sendo vendida por 220 reais e não há previsão de chegada de novos lotes.
Grandes clínicas e redes como Delboni Auriemo, Fleury, Lavoisier e Albert Einstein também estão sem estoque da vacina e a indisponibilidade é informada por meio do telefone num atendimento eletrônico, antes mesmo que algum funcionário atenda a ligação.
Segundo VEJA apurou, as clínicas zeraram seus estoques de vacinas nesta semana, chegando a vender mais de 200 unidades por dia. No Centro de Imunizações da ProMatre, na região central, só hoje foram vendidas as últimas 200 doses. Ontem, na VIP Imune, acabaram 250 unidades e na Imunobaby foram comercializadas as últimas 290 doses.
Em Campinas, no interior de São Paulo, as clínicas particulares também estão desabastecidas em razão do aumento inesperado da procura. VEJA ligou para seis unidades e apenas uma delas (Imunity) tinha dez doses disponíveis por volta do meio-dia. Depois disso, não havia previsão de reabastecimento.
O problema de desabastecimento nas clínicas particulares ocorre porque o laboratório francês Sanofi-Pasteur é o único fabricante da vacina da febre amarela para a rede privada. Segundo a assessoria de imprensa, o laboratório não esperava esse aumento na demanda e depende da importação do produto, que vem da França, e isso demanda tempo.
Em nota, a Sanofi informou que, pelo fato de as vacinas serem produzidas fora do país, pode haver problemas com restrição na capacidade de produção e distribuição. “A companhia tem recebido um aumento inesperado de demanda e, para o processo de importação, devem-se cumprir diversas regras sanitárias que exigem tempo. Em 2017 houve um aumento de 300% na disponibilização de doses, em comparação com 2016.”
Campanha nacional
Segundo o Ministério da Saúde, em 2017 foram registrados 2.300 casos de febre amarela em diversos estados e 300 mortes num período de oito meses. Só nos primeiros onze dias deste ano, a doença já soma quarenta casos e 21 mortes – quatro delas na Grande São Paulo, daí a correria em busca da vacinação.
Nesta semana, o ministério informou que vai fracionar a dose da vacina numa estratégia para evitar a expansão do vírus. A dose original é de 0,5 ml e dura por toda a vida – a dose fracionada será de 0,1 ml e, segundo o ministério, terá validade por oito anos, embora estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) falem em apenas um ano.
A partir do mês que vem, entre fevereiro e março, 76 municípios dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia vão realizar campanha de vacinação com doses fracionadas e padrão nos postos de saúde. No estado de São Paulo, 4,9 milhões de pessoas receberão a dose fracionada e 1,4 milhão a dose padrão em 53 municípios. Já no Rio de Janeiro, 2,4 milhões de pessoas deverão receber a dose fracionada e 7,7 milhões a padrão em quinze municípios. Na Bahia, 2,5 milhões de pessoas serão vacinadas com a dose fracionada e 813.000 com a dose padrão em oito municípios.
O período da campanha em São Paulo será de 3 a 24 de fevereiro, sendo os dias 3 e 24 (sábados) os dias D de mobilização da campanha. Já no Rio de Janeiro e Bahia, devido ao período do Carnaval, as campanhas ocorrerão de 19 de fevereiro a 9 de março, sendo o dia 24 de fevereiro o dia D de mobilização.