Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Após multa de US$ 5 bi, Facebook deverá se preocupar mais com privacidade

Punida pelo uso indevido de dados de usuários, rede social terá de repensar o seu negócio

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h19 - Publicado em 2 ago 2019, 07h00

“Se filmasse hoje, trataria mais do Facebook e de todo o seu poder.” A autocrítica é da cineasta americana Jehane Noujaim e foi extravasada em uma entrevista concedida por ocasião do lançamento de seu documentário Privacidade Hackeada, que estreou no último dia 24 na Netflix. O filme relata o maior escândalo a atingir a rede social que une 2,6 bilhões de pessoas mundo afora. No início do ano passado, ex-funcionários da consultoria política inglesa Cambridge Analy­tica revelaram que a empresa havia colhido, de forma ilegal, dados privados de cadastrados no site a fim de traçar estratégias para duas campanhas controversas (e vitoriosas): a que elegeu Donald Trump presidente dos Estados Unidos, em 2016; e a que sustentou o Brexit, na Inglaterra, naquele mesmo ano. O documentário, no entanto, foca mais a vileza da consultoria, e não “o Facebook e todo o seu poder”, como definiu Jehane. “Ao longo da história há exemplos de experimentos extremamente imorais. Brincamos com a psicologia de um país inteiro sem a autorização das pessoas, e no contexto de um regime democrático”, confessou o analista de dados canadense Christopher Wylie, que trabalhou na Cambridge Analytica, em depoimento exibido no filme.

Netflix-Privacidade Hackeada.png
ESCÂNDALO - ’Privacidade Hackeada’: relato da maior crise a atingir a empresa (Divulgação/Netflix)

Ninguém duvida que a consultoria tenha culpa no cartório. Entretanto, ela não estava só. A celeuma pôs em xeque a imagem do Facebook, levando Mark Zuckerberg, fundador e CEO, a depor no Congresso americano e no Parlamento inglês. Abriram-se investigações ao redor do planeta, principalmente na Europa e também no território americano. No mesmo dia em que o documentário Privacidade Hackea­da foi ao ar no universo digital, no mundo real ocorria o que deve ser um dos capítulos finais do famigerado caso da Cambridge. Naquela data, o gigante do Vale do Silício firmou um acordo de 5 bilhões de dólares com a Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) para encerrar os processos aos quais respondia no país em consequência do escândalo. Mais do que isso, estabeleceram-se ali as exigências que, em tese, devem evitar que se repita uma invasão de privacidade de igual patamar.

arte-facebook-iphone
(Arte/VEJA)

A multa da FTC foi a maior que o órgão já determinou — e segue uma tendência, iniciada na Europa, de punir o Facebook quando há exploração indevida das informações de usuários (leia o quadro). O acordo pode ainda abrir portas para que multas sejam aplicadas também em outros países nos quais a Cambridge Analytica garimpou dados — entre eles, o Brasil.

Uma das providências exigidas do Facebook pelo governo americano para tentar evitar que o problema volte a ocorrer é a criação de um “programa de privacidade”, que incluirá o monitoramento regular feito por um comitê independente, composto de políticos, cientistas e ativistas. A rede social ainda terá de, na prática, parar de repassar dados brutos a outras empresas — entre as quais, consultorias como a Cambridge Analytica e também anunciantes. A partir de agora, as informações dos usuários serão mais bem filtradas antes de ter autorizado o seu uso em propagandas.

Apesar da imagem arranhada em decorrência do episódio da consultoria inglesa, o Facebook nem de longe viu sua saúde financeira ser ameaçada por causa das multas que lhe foram aplicadas. No ano passado, a empresa registrou lucro líquido de 56 bilhões de dólares — mais de onze vezes o valor com que teve de arcar para encerrar o assunto da Cambridge Analytica nos EUA. “Desde que começou a operar, o Facebook sabe que, ao mexer com um negócio novo, acabaria por violar leis. E que teria de lidar com isso sem deixar afetar os lucros”, disse a VEJA o cientista social americano Binoy Kampmark, do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne, conhecido por ter cunhado o termo “economia de irregularidades”, com o qual descreve o método da rede social. O que se espera agora é que o caso da Cambridge Analytica sirva para que o Facebook passe a se preocupar mais com aquilo que é a base “de todo o seu poder”: os dados confiados a ele por mais de um terço da população da Terra.

Publicado em VEJA de 7 de agosto de 2019, edição nº 2646

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.