China busca supremacia aérea
País desenvolveu concorrente do Boeing e já licenciou o carro elétrico voador.

Focada para conquistar independência na produção nacional, a China vai aos poucos conquistando supremacia tecnológica na área de transporte. O país já é o primeiro na fabricação e venda de veículos à bateria, desde o ano passado, quando tirou a liderança da americana Tesla. Mas, enquanto isso, apostou também na indústria aérea. Os chineses estão na corrida para emplacar uma aeronave de transporte doméstico com potencial de concorrer com Boeing e Airbus. Trata-se do C919, que vem a ser o primeiro jato de passageiros produzido pela estatal Corporação de Aeronaves Comerciais da China (Comac). A aeronave já voa com a China Eastern Airlines, mas está certificada apenas para transitar no território nacional, e não fora dele, que é grande desafio comercial chinês.
No campo dos drones, o país é referência. E saiu na frente no desenvolvimento do e-Volt, o carro elétrico voador, que foi certificado na China e tem representantes no Brasil, caso da E-Hang, que tem planos para América Latina. O concorrente brasileiro ainda engatinha.
Mesmo sem rotas aéreas especificadas pelo Departamento de Controle de Espaço Aérea, o que é indispensável para que esse tipo de transporte seja implementado aqui, os chineses saem na frente no que se refere a divulgação de imagem e marca. A campanha na América Latina com o produto acabado faz parte de uma estratégia internacional de mercado.
Há um longo caminho, no entanto, para os chineses conquistarem independência e supremacia aérea. O mais sustentável e concreto dos projetos, o C919 é uma aeronave fabricada com componentes importados. “O motor vem dos Estados Unidos, por exemplo”, diz o aviador Fernando de Borthole, diretor do programa Aero – Por Trás da Aviação. “A indústria aeronáutica é mundial e tem fabricantes muito estabelecidos no mercado.” E boa parte dessa tecnologia começou a ser desenvolvida na década de 1990, com a parceria fechada com americana McDonell Douglas, fabricante da família de aviões MD80. Mais tarde a subsidiária chinesa foi comprada pela Boeing e depois fechada. “Foi nesse período que os chineses absorveram a tecnologia para o negócio”, diz Borthole.
Mesmo com uma aeronave para concorrer com aviões Boeing ou com a Airbus, disputar o mercado internacional com essas marcas é uma outra história. As aeronaves ficam em uso por volta de uma década. Para adquiri-las, as empresas fazem treinamentos, possuem simuladores específicos, e ainda contam com assistência das fabricantes. Trocar de marca não é tão simples, mesmo que o produto venha a ser atraente.