No domingo, 10 de novembro, comemorou-se o Dia Nacional de Prevenção à Surdez. Em um país como o Brasil, onde quase 11 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência auditiva, tratar do assunto tem importância especial.
Houve uma caminhada pelas ruas de Copacabana no domingo para celebrar a data. Para entender a importância do evento, VEJA conversou com Paula Pfeifer, deficiente auditiva, autora de livros sobre surdez e criadora do projeto Surdos Que Ouvem, cujo objetivo é acabar com mitos que rondam o tema e promover tecnologias voltadas à reabilitação. Ela conseguiu, neste ano, acesso a um fundo de 1 milhão de reais, proporcionado pelo Facebook para líderes de projetos comunitários selecionados pela empresa.
Quão grande é a dimensão global da questão da surdez? Todo ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulga os números mundiais. Eles são assustadores: 466 milhões de pessoas com algum grau de surdez incapacitante, fora os outros muitos que convivem com outros graus da deficiência. A previsão é de que, em breve, seremos 900 milhões. Os prejuízos da surdez são da ordem dos bilhões de dólares.
Qual a importância de se celebrar o Dia Nacional de Prevenção à Surdez? Marcar a data em 10 de novembro é fundamental para dar visibilidade a um problema de saúde pública global. A surdez tem tratamento e pode ser prevenida, mas a maioria das pessoas não sabe disso. Muita gente acredita que surdo é aquele que não ouve nada ou que surdez é “coisa de velho”. Essa deficiência tem diversos graus e não escolhe faixa etária, raça ou classe social. Esse dia é importante para conscientizar todos sobre uma condição que desconhecem.
Como o tratamento da sociedade para com pessoas com deficiência tem se desenvolvido ao longo dos últimos anos? Pessoas com deficiência ainda são esquecidas e marginalizadas em inúmeras situações. Graças à tecnologia, hoje temos muito mais possibilidades de dar qualidade de vida para esses indivíduos. No caso da surdez, há bebês que nascem com surdez profunda que hoje têm a possibilidade de ouvir. Antigamente, estariam fadados ao silêncio. A deficiência auditiva é invisível. Muita gente esquece que surdos podem, sim, ouvir, com a ajuda de aparelhos ou intervenções. Por isso, enfrentamos barreiras enormes de acessibilidade, visibilidade e acesso a direitos básicos.
O tempo e as mudanças tornaram a vida melhor para essas pessoas? Nos anos 1980 e 1990, quase não se falava em deficiências. Eu, por exemplo, venho de uma geração em que as pessoas com deficiência não apareciam. Hoje, nós temos lugar de fala, somos protagonistas. No fim das contas, somos todos humanos. Essa separação “nós versus eles” não faz o menor sentido.
Qual a importância do assunto para pessoas que não possuem deficiências? Ninguém está livre de desenvolver uma deficiência em alguma fase da vida ou de ter um filho com alguma deficiência. Todos precisam nos ajudar a cobrar acessibilidade, precisam aprender a se colocar no lugar do outro. Aliás, a luta por acessibilidade não deveria ser uma bandeira das pessoas com deficiência, mas um movimento de todo mundo. A sociedade ainda tem muito a evoluir nessa questão. A própria imprensa precisa mudar o discurso: não somos heróis ou exemplos de superação. Ninguém supera uma deficiência, apenas se adapta a ela do melhor jeito possível.