Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Eles podem e elas não?

Prêmio dado em feira de tecnologia a um consolo robótico feminino é retirado após a organização do evento acusá-lo de “profano”

Por Filipe Vilicic Atualizado em 4 jun 2024, 16h04 - Publicado em 1 fev 2019, 07h00

“Imoral, obsceno, indecente e profano.” Assim a organização da Consumer Electronics Show (CES), a tradicional feira de tecnologia que ocorre todos os anos em Las Vegas, definiu o objeto que se vê na foto acima. É um consolo sexual robótico para uso de mulheres, desenvolvido por um time de engenheiras da Universidade Estadual do Oregon, referência em automação, para a startup americana Lora DiCarlo. Batizado de Osé — “ousado”, em francês, ou “picante”, em italiano —, o aparelho se molda ao corpo da dona e segue instruções automatizadas para levá-la ao prazer.

Inicialmente, a CES se deslumbrou com o produto e concedeu seu principal prêmio de inovação à Lora DiCarlo. No entanto, pouco depois, a organizadora retirou a láurea do Osé, com a justificativa de que o invento era “imoral, obsceno, indecente e profano”. “Junto com meu time, criei um produto que é a definição de algo inovador”, disse a VEJA a engenheira mecânica Lola Vars, líder da equipe técnica que assina a novidade. “O Osé imita a sensação de um parceiro de carne e osso, simulando o toque, a boca — e tudo isso sem necessitar que a usuária o manipule. Nenhuma outra tecnologia foi capaz de juntar esses atributos”, destaca Lola.

RealDoll
MACHISMO – A RealDoll: destaque na Consumer Electronics Show de 2018 (//Divulgação)

A história do recuo da CES veio a público quando a CEO da Lora DiCarlo, Lora Haddock, publicou na internet uma carta aberta em que reclamava do cancelamento do prêmio. A polêmica ganhou corpo quando o diretor-geral da feira, Gary Shapiro, deu sua resposta, na qual afirmava que a CES é um “show de negócios”, e não um show de pornografia. Em seguida, Shapiro proibiu que o Osé — que deve chegar ao mercado, por cerca de 280 dólares, ainda em 2019 — fosse até mesmo exibido no pavilhão do evento. Sua reação não se justifica, e por um motivo simples: todos os anos a CES exibe modelos de bonecas sexuais, além de outros brinquedos dedicados ao público masculino — mesmo sem ser um evento de pornografia.

Continua após a publicidade

Seria o Osé mais “obsceno” do que, por exemplo, bonecas de lábios carnudos e olhares lânguidos, como a RealDoll, fabricada pela empresa californiana Abyss Creations, que foi um dos destaques eróticos da CES do ano passado? “Ficou óbvio que o prêmio foi tirado do Osé porque discutimos abertamente o clímax sexual feminino”, afirma Lola Vars. “Como uma mulher que atua nesse campo, infelizmente estou acostumada com a ideia de que inovações feitas ou voltadas para nós não são bem­-vistas na comunidade tech.” Para ela, a atitude da CES embutiu um indisfarçável machismo. Le­van­do-­se em conta que a polêmica nasce numa indústria dominada por homens — no Vale do Silício, só 20% dos cargos técnicos e 11% dos postos de liderança são ocupados por mulheres —, a explicação da engenheira parece mais adequada do que considerar o Osé mais “profano” do que a RealDoll, dotada de um avançado software que habilita a boneca a satisfazer certas fantasias masculinas.

Com reportagem de Sabrina Brito

Publicado em VEJA de 6 de fevereiro de 2019, edição nº 2620

carta
Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA
Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.brz
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.