FDA encontra problemas em experimentos com animais de empresa de Musk
Neuralink fez primeiro teste em humanos em janeiro

A FDA, agência regulatória americana, encontrou problemas em experimentos com animais da empresa de neurotecnologia de Elon Musk. Chamada de Neuralink, a companhia realizou o primeiro teste em humanos da sua interface cérebro-máquina em janeiro.
De acordo com o relatório, obtido pela Reuters através da Redica Systems, as inconsistências foram encontradas na unidade da Califórnia. Segundo o documento, os registros do laboratório não contém descrição das calibrações de equipamentos relacionados à medição de acidez e monitoramento dos sinais vitais dos animais — centenas deles foram testados. Esse procedimento é necessário para garantir que os valores apresentados pelos equipamentos são fidedignos.
Além disso, o documento também aponta que os responsáveis pelo controle de qualidade não documentaram mudanças nos protocolos ou não assinaram os relatórios finais, procedimento padrão para garantir que os ensaios são feitos de maneira ética. Em 2022 já haviam surgido reclamações de que os experimentos com animais estavam sendo acelerados, levantando questionamentos sobre a responsabilidade com que eles foram conduzidos.
A unidade do Texas também foi avaliada, mas nenhum problema foi encontrado.
O que é a Neuralink?
A empresa de neurotecnologia busca construir equipamentos que conectam o cérebro humano a computadores e smartphones. Em janeiro, a empresa fez o primeiro implante em humanos do chamado Telepatia. Poucas semanas depois, anunciaram que o paciente se recuperou bem e estava conseguindo movimentar o cursor do mouse apenas com o pensamento.
O que é o Telepatia?
O dispositivo tem o tamanho aproximado de uma moeda e é cheio de pequenos eletrodos capazes de identificar sinais elétricos dos neurônios, células do sistema nervoso responsáveis por conduzir pensamentos, sentidos e comandos motores.
A empresa não deu informações sobre quem é o primeiro paciente, mas chegou a afirmar que os primeiros testes seriam realizados com pessoas que perderam os movimentos dos membros. O uso, no entanto, não se restringirá a fins médicos. “O chip permite o controle de um computador ou smartphone, e por meio deles, de qualquer outro dispositivo, usando apenas o pensamento”, escreveu Musk, na mesma rede.
Segundo a empresa, o próximo dispositivo a ser testado será chamado Blindsight e servirá para recuperar a visão em pacientes cegos.
Quais os dilemas éticos?
O dispositivo representa um avanço para o tratamento de pessoas com deficiência, mas também é visto com receio por especialistas. Hoje, ainda não existem regulações claras que tratem das neurotecnologias, interfaces cérebro-máquina que permitem conectar o sistema nervoso a dispositivos eletrônicos com o fins médicos ou de expandir as capacidades humanas.
Em entrevista a Veja, em julho de 2023, Rafael Yuste, especialista em neurodireitos, se disse preocupado com o investimento de empresas privadas nessa área de pesquisa e afirmou que, se esse tipo de tecnologia não for regulada de maneira apropriada, empresas como a de Musk poderão utilizar informações privadas ou inconscientes para fins comerciais ou políticos.