“Estamos continuamente examinando a lista de coisas que máquinas não podem fazer e riscando as tarefas agora possíveis — jogar xadrez, dirigir carro”, disse o físico inglês Tim Berners-Lee, o criador da web. “Um dia chegaremos ao fim da lista.” Uma nova tarefa acaba de ser riscada. Cientistas da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, divulgaram, na primeira semana de novembro, a criação de uma pioneira inteligência artificial (IA), capaz de desenhar e erguer construções a partir do zero. Na prática, o robô poderá substituir engenheiros, sem dúvida, mas também arquitetos. São profissões que, até muito recentemente, pareciam imunes aos avanços, inexoráveis e acelerados, da tecnologia afeita a imitar o ser humano.
Há apenas quatro anos, a organização inglesa Nesta, incentivadora de projetos inovadores, estimou que ao menos 70% das carreiras hoje existentes passariam a ser executadas por recursos de IA. Acreditava-se que as atividades de funções mecanizadas, como o atendimento de telemarketing, caminhavam para a extinção. Quais categorias não correriam perigo? As que demandam capacidades de criação e empatia, como a dos professores, artistas e… arquitetos. O estudo da Carnegie Mellon, contudo, inaugurou uma outra avenida.
“Nossa IA não imita soluções já existentes”, diz o engenheiro Jonathan Cagan, coautor da pesquisa. “Ela aprende como as pessoas resolvem problemas, criando designs do zero.” Mesmo os mais poderosos computadores seguem variantes exatas para realizar operações, como fazem as calculadoras, por exemplo. Seria preciso dar um salto — e acrescentar aos cálculos uma condição que cientistas da IBM chamam de “inteligência cognitiva”. Pois o salto foi dado. No caso do robô-arquiteto, ele aprendeu o que fazer apenas com a observação de outros projetos arquitetônicos. No teste, construiu uma ponte similar à Golden Gate de São Francisco. Houve celebração, mas também receio, com uma pergunta que não quer calar: os empregos sumirão? Talvez não. “Se despacharmos tarefas chatas para a IA, liberaremos engenheiros para resolver problemas maiores”, diz o engenheiro Chris McComb. Que assim seja.
Publicado em VEJA de 27 de novembro de 2019, edição nº 2662